quarta-feira, maio 31, 2006

Vértice Grande Reserva Bruto 1992

Comprámos 2 garrafas em perfeitas condições no leilão organizado pela Dão & Douro. Segundo o Celso Pereira (enólogo das “Caves Transmontanas”), a marca só mantém 4 garrafas deste espumante. De resto, talvez alguns coleccionadores ainda tenham algumas botelhas.
De bolha finíssima, cor amarela palha (com laivos ora dourados ora esverdeados) e sabor intenso. De espumante típico apenas mantém alguma força inicial, mas a agulha já foi domesticada com a passar dos anos. Tudo o resto é puro deleite, é como se um belíssimo vinho branco se tratasse, mas com a finesse do gás carbónico.
No boca sentem-se notas a noz e frutos secos, tosta, alguma tangerina no longo final... tudo perfeitamente limado pelo anos de estágio em garrafa. Que glória!

segunda-feira, maio 29, 2006

Tintos até € 10


A última edição da Revista de Vinhos (RV) tem como destaque de capa uma prova comparativa entre vinhos tintos cujo preço de mercado é inferior a 10€. Apesar de não constituir uma novidade, posto que a RV já nos vem habituando a este tipo de artigo, é de salutar mais esta iniciativa, pois um comparativo deste tipo relaciona a qualidade de um vinho a um determinado preço máximo, o que facilita a vida do consumidor.
Sucede que, analisando com algum pormenor, descortino 2 questões que merecem destaque. A saber:
1 - Em primeiro lugar, constato que o preço indicado de alguns dos vinhos provados encontra-se abaixo do valor pelo qual, normalmente, se encontram à (nossa) disposição em garrafeiras ou mesmo em supermercados. Será o caso do "João Portugal Ramos Syrah 2004" indicado com o preço de € 10, ou do "Dão Álvaro de Castro" a € 8,50. Mesmo o "Ermelinda Freitas Touriga 2004" vem indicado a € 8, apesar de eu já o ter comprado à porta da Adega (à própria D. Leonor Freitas) quase a esse preço, o que pressupõe que em garrafeira o preço seja superior! E onde encontrar o "Prazo de Roriz 2003" a menos de € 10? Não é fácil garanto, no Gourmet do Centro Colombo vende-se a € 13... Ou seja, que a qualidade dos vinhos portugueses da gama “super premium” está a aumentar é algo que não discuto, aliás concordo totalmente. A prova realizada pela RV é bem ilustrativa disso mesmo, alguns dos vinhos mencionados (mas existem ausentes...) são realmente grandes compras (eg., Quinta dos Aciprestres Reserva 2003, como nos escreve o Pingus). Todavia, a publicidade que alguns desses vinhos têm tido, bem como as margens que alguns comerciantes não abdicam, fazem com que o seu preço já não se situe nessa faixa abaixo dos € 10. E importa estar, portanto, atento.
2 - Em segundo lugar, e apesar da longa lista de vinhos provados, encontrei dois ausentes de peso: o "Quinta do Infantado 2002" e o "Monte da Peceguina 2004". Em ambos os casos não compreendo a não inclusão na lista de vinhos provados. O douriense (€ 9 no ECI) é, apesar do ano difícil, um vinho com bastante complexidade, frutado e macio, enquanto o alentejano (€ 10 no ECI) é um dos vinhos mais gulosos que se pode provar na sua gama.
PS - Por fim, ainda uma curiosidade: o "Herdade do Paço Reserva 2004" passa um pouco despercebido na prova da RV, apesar da pontuação de 16 pontos; já na Blue Wine n.º 1 vinha apresentado como “recomendação/boa compra”...

segunda-feira, maio 22, 2006

A comunidade

Tenho para mim que o encontro entre blogs que escrevem sobre vinhos da passada semana revelou-se uma prova da vivacidade da “blogosfera”.
Ao contrário do que sucede um pouco por todo o "jornalismo amador e diletante", não se tratou de competição, muito menos de rivalidades. Ao contrário do que se assiste pela internet fora, não se tratou de promoção, muito menos de egocentrismos. Desta certeza ficámos todos certos, passe a redundância.
Em rigor, a boa disposição que mostramos uns para com os outros está bem longe do que se pode observar noutros sectores, mesmo no que respeita a blogs. Quem escreve sobre política (e os blogs em Portugal começaram sobretudo por serem páginas feitas por políticos ou por jornalistas de política nacional) sabe bem quanto é difícil escrever um texto sem criar reacções negativas noutros cronistas, ou encontrar (novos) inimigos. Do mesmo modo, muitas vezes quem rabisca poesia ou literatura, quem cola num site fotografias que tirou, quem descreve uma ideia de negócio etc..., procura a sua promoção (legítima, claro está).
Sucede que, ao invés, quando conheci o João Pedro, o Ricardo, o Rui, o Nuno, o Cristo, o Rui “Pingus”, só pensei: “olha-me estes tipos fantásticos... e não é que eu ando a fazer o mesmo que eles...”
O Copo de 3 mostrou um vivo sotaque alentejano (que eu já esperava!) e um estômago habituado ao melhor de Portugal e Espanha. Os Vinho a Copo mostraram uma bela união e a conjugação de vontade e conhecimentos. O Pinga no Copo revelou boa disposição e profissionalismo nas notas que ia tomando (sei que adoras o Quinta da Vegia Reserva 2003, olha, comprei uma caixa inteira no leilão).
Por isso, cabe marcar um primeiro evento de blogs sobre vinhos – algo sério, mas descontraído – para ver como esta “comunidade” evolui. Já com o João Roseira, claro, e com todos outros.
Este foi o primeiro passo. E não tenho receio de dar o segundo.

Gota e Pinga - mais um blog e dos bons...

Não sei se foram os meus elogios ao João Roseira que o levaram à reactivação do seu antigo blog. Do mesmo modo, desconheço se foi a “dinâmica” que se constata nos blogs sobre vinhos que determinou tal regresso... O que sei é que já está novamente em funcionamento. Sobre vinhos claro.
E melhor é impossível: um blog sobre vinhos escrito por quem conhece o vinho “por dentro”. Por mim, vou espreitar todos os dias o Gota e Pinga.
João, um forte abraço!

quinta-feira, maio 18, 2006

Quinta de Carapeços (B) Alvarinho 2004

No início é uma explosão de gás, excessivo mesmo. É tanto o gás que prejudica, num olhar desatento, a análise à cor deslavada tornando-a pouco nítida. Na boca melhora bastante, sente-se um bouquet guloso e adivinha-se o doce que a boca irá trazer. Pesado no copo para um vinho verde. Na boca, confirma-se o carácter floral e exuberante, mas de final curto. Dá a sensação que não é 100% Alvarinho – será Trajadura? O contra-rótulo não esclarece. Um pouco depois, mais "aberto", confirma-se então o temperamento doce e explosivo que prevíamos, agora com notas vivas a groselha... o “novo mundo” em pleno Minho?
Para quem (como eu) prefere a mineralidade e a complexidade não vai encontrar neste verde grande motivo de atracção. Ao invés, aqueles que preferem a fruta fresca e as notas florais aguerridas encontrarão neste verde minhoto um atractivo vinho de Verão.
A menos de € 6. Suficiente (13,5).

terça-feira, maio 16, 2006

Dão e Douro: já as saudades...

Só pela simpatia do João Roseira (Bago de Touriga) e da Teresa Gomes (Wine Solutions), - que soberbo jantar na sexta-feira no Valle-Flôr! – a iniciativa Dão e Douro já tinha muito para ser um êxito. A óptima selecção de vinhos, incluindo algumas grandes marcas de Portos (Taylor e Niepoort), acrescida ainda de um programa abrangente com provas em garrafeiras e jantares em restaurantes de prestígio... enfim tudo indicava um cuidado esmerado na organização. As cerejas no topo foram, para mim, o leilão de vinhos para beneficência e a prova final de excelência do Domingo no Pestana Palace.
Do jantar de sexta-feira, tudo é elogio: magnífica a cozinha do chefe Aimé, vinhos para todos os gostos, rigoroso serviço de vinhos seguido pela equipa da profissionalíssima Ana Paula.
Quanto à prova final realizada no Domingo, foram várias as provas de casco que entoavam vitória. Para além destas (quase todas de 2005), estiveram presentes outros vinhos já em comercialização. Destes, uns eram nossos conhecidos - eg., Aneto, Quinta da Pacheca, Quinta da Vegia, Gouvyas, entre outros - os restantes também proporcionaram fantásticas experiências vinícolas. Para não ser exaustivo, e sabendo que estou a deixar muitos bons rótulos de fora, ainda não esqueci alguns vinhos provados pela primeira vez no Domingo (é que tenho para mim que a lembrança é sempre um óptimo critério, nem que seja residual). É o caso dos brancos Castelo D’Alba (B) Vinhas Velhas 2004, Alves de Sousa Reserva (B) Pessoal 2003, o espumante Vértice “Bruto 0” 2000, e dos tintos Quinta do Infantado (T) Reserva 2003, Batuta (T) 2004, e Esmero (T) 2005 [este em prova de casco].

Um abraço redobrado para o João Roseira e um beijinho para a Teresa Gomes, bem como para aqueles que os ajudaram nesta iniciativa. A todos parabéns!

sexta-feira, maio 12, 2006

Pancas, Gago e ... Tapada do Chaves 1996

Enquanto outros colegas de ofício degustavam na Galeria Gemelli, nós, mais remediados (contamos tostões para nos desforrarmos hoje no Valle-Flôr), tínhamos um acordo com o Filipe Gaivão: nós levámos as garrafas, ele preparou a janta no seu restaurante. Assim, com uma pescada em tomatada e cebolada, seguida de folhado de perdiz e de lombo de porco com farinheira, bebeu-se:

  • Quinta de Pancas, Reserva Especial (T) 2003: muito concentrado como se esperava - os melhores Pancas são "built to last" e melhoram bastante com em garrafa -, mas não resistimos a uma prova antes do tempo. Muito maduro, fruto certamente do ano quente, com um impacto forte a fruta preta, sem traços de acidez, madeira já viva mas ainda escondida. Com um preço elevado, é um Pancas um pouco diferente de anos anteriores, mais madurão (ou será apenas do ano?). Cabe provar o “Premium (T) 2003” para tirarmos as dúvidas. Bom+ (17,5)
  • Dehesa Gago, (T) 2002: um belo vinho da região de Toro (a noroeste de Salamanca) feito por um dos novos mestres espanhóis, Telmo Rodriguez. Afirmando-se como um “driving winemaker”, percorrendo as auto-pistas de Espanha, Telmo Rodriguez (licenciado em Bordéus) dá assistência profissional um pouco por todo o território do vizinho ibérico. Este néctar, produzido a partir da variante autóctone da Tempranilho plantada em Toro (região ainda banhada pelo Douro), é talvez o seu projecto mais pessoal, mostrando-se elegante, macio, com irresistíveis notas a baunilha no bouquet e uma entrada de boca muitíssimo sedutora. Sem o excesso do carvalho americano típico de alguns vinhos espanhóis da velha guarda, e sem se notar o álcool, é um vinho sem arestas, onde a fruta vermelha madura (que não contribuiu para que se tornasse excessivamente doce) acompanha toda a prova, sobressaindo notas a mirtilho e referências a groselhas; fortemente guloso. Bom+ (17,5)
  • Tapada do Chaves (T) 1996: Fechou a noite antes do Porto, e fechou-a muito bem. Incrível a jovialidade deste puro alentejano, de Portalegre, diga-se! Nota-se pouco a evolução no copo (nem dá para acreditar...), apresentando-se rubi escuro apenas com a auréola em traços de castanho grenat. Nariz fechado mas com alguma fruta (que surpresa) e notas a couro e a armário antigo. Na boca esteve magnífico, elegante e portentoso, com fruta vermelha e notas nobres típicas da idade. Grande vinho. Bom ++ (18)
  • Quinta do Infantado (P) Vintage 1999: Pouco opaco na cor, perfumado e honesto. Conversei com o João Roseira uns dias mais tarde que me disse que a intenção era essa mesma, a de um vintage para ser consumido novo. Bom (16)

quarta-feira, maio 10, 2006

Vintages: novos ou menos novos?

Para quem quer ler uma interessante e vincada opinião, bem como os comentários, sobre Portos vintages (novos ou menos novos?), basta clicar aqui.

segunda-feira, maio 08, 2006

Evel Grande Escolha e Quinta dos Carvalhais

Também em casa se fez um mini “Dão e Douro” em pura brincadeira...
Abriram-se um Quinta dos Carvalhais Colheita 2002 (Sogrape) e um Evel Grande Escolha 1999 (Real Companhia Velha). É neste momento que me cabe esclarecer que tenho pelo Evel Grande Escolha (sobretudo os de 1999 e de 2000) uma grande afeição. Não sendo a marca mais mediática no mercado, nem o vinho mais poderoso das colheitas, foi e é um valor seguro e constitui uma excelente relação preço/qualidade. Diria mesmo que pode bem ser a porta de entrada para os verdadeiros topos de gama do Douro (G7), tendo outros já sido surpreendidos com este vinho. Quanto ao Quinta dos Carvalhais Colheita, também de preço não especulativo, surpreendeu pelo equilíbrio do seu conjunto, muito agradável, todo do tipo redondo, com a fruta a teimar em não sobressair. Vejamos melhor:

  • Evel Grande Escolha (T) 1999: muito escuro, apenas vermelho na auréola, bonito e elegante sem ser do tipo super-concentrado. Alguma evolução, mas revelou muita saúde (pode ser consumido até 2010). O nariz esteve algo fechado, duro mesmo, fruta madura em bloco e alguma madeira resultante dos 18 meses de estágio. Na boca esteve complexo, também fechado, mas muito sedutor. Notas a grafite misturadas com chocolate preto, muitas camadas, terminando por vezes doce e quente. Bom++ (18)
  • Quinta dos Carvalhais Colheita (T) 2002: grenat na cor, com pouca concentração e lágrima esguia. No nariz sentiu-se alguma acidez interessante, não concretizada na boca. Do estilo redondo e macio, é um conjunto equilibrado, mas de final curto. Suficiente+ (14)

Dão e Douro em Lisboa


Desde 4 deste mês, e até ao dia 14, as regiões vinícolas do Dão e do Douro estão espalhadas um pouco por toda Lisboa. Falo, como alguns já sabem, da 3.ª edição da Dão e Douro, iniciativa que privilegia o contacto pessoal dos vinhos com o consumidor, quer através de provas em garrafeiras, quer mediante jantares em restaurantes de prestígio.
As provas nas garrafeiras realizaram-se este fim de semana, os jantares começaram no dia 4 (no Eleven) e acabam no próximo dia 13 (no Terreiro do Paço).
Quanto a nós do Saca a Rolha, marcamos presença na Charcutaria Gourmet do CC Colombo e na garrafeira Adivinho, provando os seguintes durienses:
  • Calheiro Cruz Grande Escolha (T) 2000 bom++: um clássico do Douro em óptima forma; belo e elegante bouquet, madeira integrada, notas minerais e algum café.
  • Cerro das Mouras (T) 2003 bom+: bela surpresa, a marca soa a Alentejo... mas o carácter é do Douro, guloso, poderoso, taninos em forma e um belo final.
  • Taylor LBV (P) 2000 bom+: mais uma bela prova do que esta casa consegue fazer nos LBV (foi esta marca que "inventou" os LBV).
  • Quinta da Revolta Touriga Nac. (T) 2003 bom+: macio, aveludado, cativante, bela surpresa. Venham mais destes!
  • Glória Reserva (T) 2003 suficiente+: boa concentração, rubi escuro no copo, mas na boca esteve demasiado terroso, o carácter mineral demasiando bruto dominou a prova.

Quanto aos vinhos do Dão, quedámo-nos pelo:

  • Quinta dos Roques Reserva (T) 2003 bom-: no nariz surge o perfil duro da casa, e copo é médio/muito encorpado. Interessante, mas não surpreende.

No que respeita a restaurantes, lá estaremos nós na próxima sexta-feira dia 12 no Valle-Flôr. Já no dia 14, no encerramento das "festividades" cumpre-se a promessa de um encontro entre blogs de vinhos...

quarta-feira, maio 03, 2006

Notas gastronómicas

Uma vez mais importa parar a degustação de vinhos e destacar, apenas por uns instantes, algumas propostas gastronómicas.

O Nobre: novo restaurante - agora sito no Montijo - depois de tantas peripécias em Lisboa (algumas deixam muitas saudades, outras menos). É um regresso a alguns dos sabores da minha infância: a sopa de santola, os camarões quentes ao sal, o lombo de robalo/cherne à Justa, and so on... and so on. O estilo da casa mudou bastante para quem se lembra do restaurante na Ajuda (mas não entro em detalhes), o público alvo também mudou... a qualidade da comida da D. Justa e a simpatia do Sr. Nobre essas continuam intactas.
Quinta de Catralvos: em plena estrada entre Azeitão a Sesimbra fica esta quinta, projecto ambicioso, dos vinhos ao turismo, passando pela restauração. Com o chefe Luís Baena a comandar a cozinha, temos então várias propostas interessantes (eg., shot de navalheiras e ouriços do mar, croquetes de ostra, ovos de codorniz em cogumelos) viradas sobretudo para o estilo tapear, dada as dimensões reduzidas. Tirando o facto de várias propostas estarem esgotadas (!) aquando da nossa visita, e a escassez demostrada pela lista de vinhos, é uma visita a repetir, sobretudo pelo bom ambiente e pela a originalidade da maior parte dos pratos apresentados.

terça-feira, maio 02, 2006

Dica do mês


Adega de Pegões Trincadeira (T) 2004: mostra uma boa cor profunda, notas a fruta muito madura e alguma pimenta branca. Sente-se bem o terroir das "Terras do Sado", com a doçura habitual. A madeira talvez esteja demasiado evidente mas sem deturpar o conjunto muito macio, gordo até, e bastante agradável.
A menos de € 6.