quarta-feira, março 28, 2007

Prazer a menos de 20€

Para o leitor cuja ansiedade acabou de aumentar com o título deste texto fica uma advertência: não se trata de um vinho, mas de dois. E não, cada um não custa 20€... os dois juntos, isso sim, quedam-se por esse preço.
Pois é, para quê comprar um bom vinho por 20€ quando, pelo mesmo preço, se pode comprar dois. O problema reside na dificuldade em adquirir os vinhos que se seguem, posto que não se encontram nos hiper ou supermercados, nem mesmo em qualquer garrafeira. Mas calma... também não são assim tão raros.


Gouvyas (T) 2003: Já não constitui novidade que os vinhos do João "Redrose" e de L. Soares Duarte são vinhos de puro prazer. Os próprios gostam de caracterizá-los como "gastronómicos". Quem sou eu para os contradizer, mas vou dizendo que, para mim, são muito mais do que isso. Este "Gouvyas 2003" nem sequer é o afamado "Vinhas Velhas" (18v. p/ RV), e – talvez heresia – é mesmo melhor escolha que o topo de gama numa mera relação de preço/qualidade. Nariz absolutamente perfumado – não costumo utilizar este adjectivo, mas neste tinto "assenta como uma luva" – com fruto irrepreensível e uma madeira muito discreta. Na boca é uma pequena tentação: guloso, intensamente centrado no fruto mas sem exuberância enfadonha, redondo e "sedosamente" macio. Final médio/médio+ saboroso, novamente com referências tímidas provenientes da madeira presentes num ou outro "tique balsâmico". A menos de 12€ na garrafeira "Coisas do Arco do Vinho" em Lisboa. 17

Monte da Cal Aragonês (T) 2004: Mais um "furo"na planície alentejana... e logo quando começávamos a pensar que os extremes de aragonês desta região não podiam mais surpreender. Um vinho cujo único pecado é bebê-lo já, pois certamente ganhará com mais um ou dois anos em garrafa (mas como resistir?). Este é, aliás, um dos aspectos muitos positivos deste tinto – apresenta-se jovem e sedutor, mas de taninos a pedirem cave. Nariz intenso a morangos muito maduros, a ameixa e, minutos depois... a esteva. Marcado pela "tinta da china", é um alentejano de carácter moderno onde as notas químicas se sobrepõem na boca ao fruto e uma madeira que (quase) não se nota. Final muito persistente, frescura proveniente do álcool (14,5º), secura nos lábios e apetite para mais. Atenção a esta marca (do grupo "Dão Sul") que dará que falar (uma dica mais: provem também o "Reserva 2003"). A menos de 8€ na garrafeira do ano/2006 (prémio RV) "Veneza" em Paderne (Algarve). 17

Torre do Frade Reserva (T) 2004

Em prova cega, e entre muitos vinhos, este Torre do Frade (T) Reserva destacou-se. Pela cor marcante, tinturada, aroma potente a lembrar bosque e fruto preto não confitado. Pelo corpo muito estrutrado, elegante mas afirmativo, e pelo seu final médio+/longo especiado e muito guloso. Um tinto "e tanto" do Alentejo, que merece ser conhecido. Se ao menos eu tivesse uma foto do rótulo... 16
PS: Nessa prova, na qual também estava o Rui, apenas um outro vinho se destacou ainda mais. Foi este.

terça-feira, março 27, 2007

RV de Março: um deleite

Se existiam razões para descansar depois de uma certamente exaustiva organização dos prémios "Os melhores do ano - 2007", a Revista dos Vinho (RV) não aproveitou a folga.
Na verdade, ao invés, a edição deste mês de Março (que só ontem comecei a ler) está das melhores que tenho memória. Entrevista oportuna (exclusiva?) aos dois grandes homens do momento, reportagens (se assim lhe posso chamar pois são muito mais do que isso) a partir da Quinta do Vale Meão e do berço do "Poeira", belíssima prova de vinhos internacionais (os espanhóis ficaram um pouco abaixo do que eu previa...), de colheitas do Noval, etc e etc.
Grande número da RV. A prova que a exigência da excelência pode muito bem ser de carácter mensal.

domingo, março 25, 2007

Dois tintos alentejanos em forma


Diz-se muito frequentemente que os tintos do Alentejo devem-se beber novos. Pegámos em dois exemplares que, não sendo propriamente antigos, já levam 4 e 6 anos desde a colheita, respectivamente. Não são, nem pretendem ser, os topos de gama das marcas respectivas, por isso maior era a expectativa na prova. Sem surpresas – agora digo eu – portaram-se ambos de forma muito positiva. Vejamos então.

  • Quatro Castas (T) 2002: Este tinto da Herdade do Esporão combina - como o próprio nome sugere - quatro castas e, faz já alguns anos, que se situa entre os monocasta do Esporão e os topos de gama "Private Selection", agora acompanhados do recém chegado Torre (T) 2004. Cor jovem, vermelho muito escura. Baunilha no nariz e fruta sedutora na boca (ameixas e morangos maduros). Não fosse aliás o devaneio da madeira, e estaria ainda melhor. Fizémos bem em servi-lo a uma temperatura de 16º. Final muito correcto. Está pronto a beber, e é muito saboroso. Admito que se possa guardar mais uns anos. Mas para quê? 16
  • Quinta da Terrugem (T) 2000: As portuguesas castas trincadeira e aragonês dão-nos aqui um vinho muito profundo e de perfil moderno (mas sem "modernices"). Todo ele está em bela forma (prefiro sempre os Terrugem com alguns anos, confesso). Nariz fechado mas em evolução. Corpo elegante, quase redondo. Na boca encontramos uma panóplia de sabores muito complexos e uma persistente presença de fruto de qualidade a transitar para algum balsâmico. Final médio+/longo. Está pronto a beber e irresistível para agradar. 16,5

terça-feira, março 20, 2007

Novidades de Celso Pereira


Só a imensa simpatia de Celso Pereira se atreve a superar as virtudes dos vinhos que ajuda a produzir. Por isso, a apresentação dos seus néctares mais recentes é sempre um momento de convívio e "bem beber". Este ano começámos pelos espumantes: o "cada-colheita-melhor" Vértice Reserva 2004 e o belíssimo Super Reserva (bruto zero) 2000. Após mais de uma década e meia a produzir belos espumantes, ninguém duvida da consistência desta marca das Caves Transmontanas. Depois, provou-se o Vértice (B) 2006 em amostra de casco, já que branco de 2005 não haverá para venda por não se ter conseguido a qualidade habitual.

Mas foi nos tintos que a coisa mais brilhou. A saber:

  • Vértice Grande Reserva (T) 2003: Cor vermelha escura muito bonita com ligeiro sinal de evolução. Corpo fino e elegante, dá a sensação imediata que é um vinho de perfil gastronómico. Fruto de qualidade, alguma menta e várias sensações a café (provenientes da madeira, segundo o enólogo) que se combinam num néctar com "pattine" e de final longo. Um mimo pronto a beber (preço aprox. 15€). 17
  • Quanta Terra Grande Reserva (T) 2004: Este projecto de João Alves e Celso Pereira continua a superar as expectativas ano após ano. Este 2004 é um caso muito sério: muito escuro na cor, nariz fresco e cintilante, fruta madura (mas longe da sobrematuração). É preciso esperar por ele, é preciso um copo a sério para o provar, mas nota-se uma capacidade de evoluir enorme. Pesado e cheio de corpo e juventude, é um tinto muito complexo que vai certamente dar que falar. Também pelo preço, a menos de 20€. 17,5

domingo, março 18, 2007

Churchill Estates 2004


Confesso que tinha algumas expectativas. Não pelos actuais "zuns-zuns" (nacionais e internacionais) em torno deste 2004, mas pela bela experiência que tive com o primeiro Churchill de mesa, o Churchill 1999. Era intenso, pujante, repleto de taninos agrestes, mas também era saboroso sem ter excesso de fruto maduro. Passou despercebido. Lembro-me de o provar ao jantar e, no dia seguinte, ter tido ainda mais prazer ao almoço com o que dele restou do dia anterior. Até o rótulo, singelo e discreto, era outro. Teria esse episódio decorrido numa época distante... (?) vendo bem, não foi assim há tanto tempo, passaram-se, talvez, menos de 5 anos. Por isso, uma advertência: este é um texto de algum amargo de boca.

Ora, na colheita de 2004, tudo está "politicamente correcto": tinto de cor quase opaca, com lágrima persistente, aroma transbordante a álcool, e um fruto vermelho maduro em compota que domina a prova de boca. Que saudades da força balsâmica do de 1999... Ao invés, o ora provado está mais calmo, muito mais amansado (pelo menos face o de 1999, pois tenho a certeza que alguns enófilos também encontrarão "potência" neste 2004), e revela um calor doce que certamente agradará a muita gente (a meio da janta penso que o deveria ter servido refrescado com a sobremesa). Enfim, parece querer juntar-se à lista - cada vez maior - dos tintos que retiram o "menos bom" da tinta roriz para se tornarem monótonos. Nem mesmo o álcool desmedido como dita a moda (14,5º) lhe dá frescura. Final médio+ com as mesmas características já abordadas.
Um tinto (bem) feito a pensar na grande quantidade de consumidores de tintos durienses. Agora percebo os "zuns-zuns"! Até o preço – a menos de 12€ - é acessível. Queremos dizer, é um bom preço para os seus apreciadores (que não faltarão).

14,5

sexta-feira, março 16, 2007

1 pato e 2 brunhedas


Estou a repetir-me se escrever que alguns dos pratos que mais rapidamente preparo para acompanhar vinhos têm como matéria prima o peito do pato (ou "magret", se preferirem a francesisse).

Coloco o lombo, com a pele virada para baixo, numa frigideira alta e grande e, numa primeira fritura, adiciono apenas temperos básicos (sal, pimenta, pouco mais). Depois, retiro o lombo do bicho, e é altura de desferir cortes como que a fatiar finamente, mas sem cortar totalmente em fatias. Passo então outra vez pela frigideira, agora com os outros ingredientes seguindo a imaginação. Dou prevalência a alguns produtos ácidos para cortar a gordura natural do pato (como fruta: laranja é um clássico) e/ou vinho do porto ("ruby" serve bem). Reforçar na pimenta também é essencial.

Para beber? Façam como nós que abrimos dois vinhos da casa duriense Brunheda. Um óptimo branco, à semelhança do que outros produtores vêm fazendo sobretudo do Douro, e um tinto da "velha guarda" com um toque feminino. Duas belas opções.

Vinha da Pala Reserva (B) 2004
Decantado e reintroduzido na garrafa, é mais um daqueles brancos que persegue os melhores da região. A partir de malvasia fina, códega do larinho e viosinho, e com 12 meses de carvalho francês está límpido na cor e fresco na boca. Falta-lhe algum fruto (de caroço, como gostamos), mas está redondo, com estrutura e peso adequado e acidez certeira. Fomos buscá-lo à garrafeira Veneza no Algarve. O preço rondava os 14€. 16,5

Brunheda Reserva (T) 2001
Que excelente cor rubi profunda e sem marca exposta de evolução. Nariz reduzido, com concentração e algum fruto de qualidade. Na boca está fresco, amplo, com acidez muito positiva. O fruto está menos presente, a evolução que não se nota na cor sente-se na boca. É um bom vinho, produzido a partir de castas tradicionais do Douro, ao qual parece faltar algum carácter mais robusto. Está elegante, talvez feminino... 12,5º de álcool é coisa rara nos dias de hoje. O preço não sabemos, pois saiu-nos em sorteio, faz anos, num dos belos jantares da garrafeira "Coisas do Arco do Vinho" em Lisboa. 16,5

quinta-feira, março 15, 2007

Prós e Contras: vinhos brancos nacionais



Muito curiosa a diferença de opiniões que ainda persiste na net sobre a qualidade dos vinhos brancos portugueses.

São os prós e contras...


PS: Basta ver os nossos últimos textos - somos definitivamente "pró".

quarta-feira, março 14, 2007

Francos (T) 2003

Produzido por José Neiva na sua quinta de Alenquer, este tinto está um furo acima da gama DFJ. O primeiro impacto é o da madeira, de excelente qualidade mas não totalmente integrada com a fruta. Esta aparece "de mansinho", pela calada... aroma a frutos maduros como manda a moda. Passada meia hora, a madeira perdura (quando parará?), enquanto que a fruta evolui para notas de canela, produtos lácteos, compota de morango e não faltam até as referências a frutos secos.
Um vinho de perfil moderno, guloso e com um final persistente. Mais um tinto da Estremadura - mais um tinto de Alenquer - de bom perfil. A menos de14 €.
16

domingo, março 11, 2007

Termeão "Pássaro Vermelho" (T) 2003


Perfume e diferença de estilo...
É assim este Termeão (T) 2003!

De um dos produtores mais dinâmicos do país – Manuel Campolargo, pois claro – vem este tinto cujas melhores qualidades, em nossa opinião, ficaram sintetizadas no primeiro período deste texto.
Perfume que não é uma novidade em vinhos da Bairrada, muito menos nos tintos de Campolargo, um produtor que parece sempre privilegiar a elegância em detrimento da força bruta. Aroma estreito, mas franco, tudo muito delicado, de tal modo suave que a touriga (em clara maioria) proporciona aqui um bouquet muito pouco usual para a casta. Digamos que mais... feminino.
Diferença de estilo que também é uma chancela do produtor bairradio que nos habituou aos mais diversos devaneios vinícolas, sempre de qualidade. Pois bem, não está opaco na cor, mas esta é belíssima. O corpo não é super concentrado, mas tem estrutura "para dar e vender". O final não é prolongadíssimo, mas é irresistível. Os taninos não são demolidores, mas está para durar.
Em suma, um belo tinto, a um preço não exagerado tendo em consideração a reduzida produção. Este é o "pássaro vermelho" (ver no rótulo), mas existe também o "pássaro branco" mais acessível. A menos de 18€.

16,5

quarta-feira, março 07, 2007

Monte da Ravasqueira (B) 2006


Aqui está outra surpresa no universo cada vez mais aliciante dos vinhos brancos nacionais abaixo dos 10€. Depois do nosso espanto no Douro (ver aqui), é a vez do Alentejo fazer chegar-nos este Monte da Ravasqueira (B) 2006 que tem tudo para ser um sucesso.

Aliadas a um corpo sólido, redondo até (bem sei que falamos de um branco...) - características provenientes do antão vaz - encontram-se surpreendentes sugestões de frescura inovidável, estas resultantes de uvas tão pouco comuns nas terras quentes do sul de Portugal como a alvarinho, viogner e semillon.

Mais algumas castas (este é um lote de seis castas) e temos este curiosíssimo vinho o qual, em rigor, é muito diferente de tudo o que temos provado em matéria de brancos altentejanos. Doçura graciosa na entrada de boca, bom corpo, leve mineral. Final médio+ com acidez ajustada, enfim tudo muito equilibrado e onde as sensações doces na boca não se mostram nada enjoativas. Por isso, é quase impossível não gostar deste branco. Um brancos que sobressai entre os seus pares alentejanos. Pela diferença de estilo, pela estreia, e mesmo pelo preço pedido, venham mais destas curiosidades...
Entre 5 € a 7,5 €, a ser comercializado em breve.

16

domingo, março 04, 2007

Amália Garcia (T) 2006


Às vezes deparamo-nos com vinhos assim... Diferentes, absolutamente impressionantes, vinhos para os quais os nossos sentidos não estão sequer preparados. É o caso deste Amália Garcia (T) 2006, provado em amostra de casco numa apresentação no restaurante e garrafeira "O Ganhão".

É um alicante bouschet 100%, sem qualquer estágio em madeira e com uns brutais 17,5º de graduação! O que dizer? Que é um monstro... no copo revela-se opaco, quase preto com auréola violácea e azul. Agita-se a mão, roda-se o copo, e um bloco compacto mexe-se de forma lenta e precisa - é incrível a estrutura deste vinho! O nariz está um pouco fechado, com fruta muito madura é certo, mas ainda tímido, com o "mundo a seus pés". A boca está viva, o álcool dá-lhe estrutura e muita frescura. Como é de esperar, por enquanto não existem aromas nem sabores secundários, é tudo um alicante muito maduro, daqueles que só o Alentejo pode proporcionar. Fruta, café moído, um pouco de menta e um enorme mar de paladares balsâmicos intensos com verniz e cera. Final pungente e longo.
É um tinto muito interessante, com a curiosidade da ausência de madeira, é um vinho com uma personalidade que não lhe advém apenas do elevado grau de álcool. O produtor Francisco Garcia (o vinho é uma homenagem à sr.ª sua mãe) vai engarrafar o vinho no próximo dia 15 de Março de 2007. Serão poucos milhares de garrafas a um preço esperado de cerca de 50 € cada. Agarre-o se puder!

17,5

sexta-feira, março 02, 2007

Espumantes: apenas pontuações





  • Porta da Traição s/ ano (s/ indicação de castas) 14

  • Vértice Reserva 2004 (s/ indicação de castas) 15,5

  • Muros Antigos 2004 (alvarelhão / alvarinho) 15,5

  • Borga 2004 (pinot noir / chardonnay) 16

  • Murganheira vintage 2002 (pinot noir) 17

PS: Bem sei que são apenas pontuações, e que foto é uma rolha de "Mumm", mas esta é a nossa maneira de desejar um óptimo fim-de-semana.

quinta-feira, março 01, 2007

Gambozinos Reserva (T) 2004


Mais um tinto duriense proveniente de um pequeno produtor à procura de um lugar ao sol. Mais um tinto bem feito, sem defeitos, apetecível até.

O Douro está com uma nova dinâmica. Juntamente com os "Douro Boys" tem surgido, mais recentemente, uma autêntica "nouveaux vague" com vinhos de gama "premium" muito interessantes. É como se existisse um Douro a duas velocidades, sendo que uma vaga pode muito bem aproveitar as sinergias criadas pela outra (e, naturalmente, o inverso), pelo que estamos perante uma tendência que nos parece muito positiva.

Pois bem, este Gambozinos Reserva – de pouco consensual talvez só tenha o nome comercial escolhido – tem uma bela cor, vermelha muito escura, e no copo mostra-se pesado e de álcool evidente. No nariz predomina a touriga (como vem sendo cada vez mais habitual) e os seus aromas florais, aqui um pouco rústicos e mais duros do que seria desejável. Na boca o vinho é bem curioso, se bem que parece hesitar entre um estilo rústico (que predomina) com algumas notas gulosas a fruta confitada e chocolate que o final acentua.
Em conclusão: temos vinho, e para beber nos próximos 5 anos. A menos de 12 €.

16
PS - Vejo que o Paulo anda a beber o mesmo que nós, aqui.