segunda-feira, dezembro 29, 2008

VISITA


Quinta da Fata (Dão)


Em tom de reportagem vinícola, e para os lados de Nelas, mais concretamente entre Nelas e Santar, bem junto à aldeia de Vilar Seco, encontrámos no mês passado a bonita Quinta da Fata de Eurico Pontes. Vejamos melhor:
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Recente produtor do Dão, cada vez mais conhecido e com presença em alguma restauração da capital - eg., restaurante "Apuradinho" (Campolide) -, tem aproveitado o recente boom da região para uma maior projecção e visibilidade. Feita a visita à quinta, que também dispõe de turismo rural, constatamos que se trata de um projecto que Eurico Pontes conduz com pés e cabeça: área vindimada com dimensão adequada, sem excessos (talvez com pouco mais de 10 hectáres); vinhas praticamente contíguas às da famosa Casa de Santar e plantadas de acordo com a orientação do Centro de Estudos Vitivinícolas (Nelas); adega simples e rudimentar mas muito prática. Tudo isto nuns vinhos que se querem de perfil clássicos, saborosos mas duros. Vinhos… quase todos tintos entenda-se, pois apesar de existir uma parcela de casta Encruzado, pouco se engarrafa de branco por enquanto.
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Os vinhos a merecer destaque são pois o Quinta da Fata Reserva e o Quinta da Fata Touriga Nacional, apesar de existir um colheita e um branco. Ambos, melhores na colheita de 2005 – o ano foi muito bom no Dão – mas mantém boa qualidade na colheita de 2006, encontrando-se até mais acessíveis e podendo, por isso ser, bebidos de imediato. Como referências típicas, os tintos da Quinta da Fata revelam fruta generosa no nariz praticamente sem percepção da madeira onde estagiou, taninos sérios mas saborosos na boca. Em suma, são vinhos gastronómicos que não viram a cara à luta a um cozido sem couves. O monovarietal Touriga Nacional tem estado uns pontos acima do irmão Reserva, com a casta raínha a mostrar-se num perfil nada pesado, antes levemente floral, e com um final pronunciado.
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Valem a pena ser conhecidos estes tintos e vale a pena ser conhecida a Quinta da Fata.
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quinta-feira, dezembro 25, 2008

O texto de Natal e nosso pódio de 2008
(ou, tintos que não são novidade mas que gostámos muito)
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Quem tenha lido os nossos últimos textos e provas a propósito de vinhos a não esquecer será tentado a concluir que, em 2008, este blog apenas se surpreendeu com vinhos espanhóis (Aalto PS, Ossian) ou Australianos (Amon-Ra). Nada disso! O nosso singelo objectivo (modéstia à parte) sempre foi destacar os bons vinhos nacionais, as boas compras, aqueles com excelente evolução (para quem tenha dúvidas, basta ver que a grande maioria das provas publicadas são de vinhos nacionais, apesar das diversas provas de vinhos estrangeiros ao longo do ano). Nessa medida aliás, os vinhos que destacamos neste ano de 2008 serão portugueses e, curioso (talvez), vinhos portugueses com mais de 6 anos de estágio em garrafa. Trata-se, para mais, de um destaque que não é comandado por uma lógica pedagógica (embora seja conveniente que mais gente prove vinhos lançados em anos anteriores), mas sim de puro prazer! É que, efectivamente, foram vinhos, todos tintos, oriundos das colheitas de 1997, 2000 e de 2001, aqueles que nos deram mais prazer a beber durante este ano. Quais são?
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O primeiro desses vinhos é um clássico renascido. Supostamente destinado a ser o topo da marca Ferreirinha, seria desclassificado "à última da hora" e, para nós, está mesmo melhor que alguns Barca Velhas (eg., comparem-no com o BV de 1995). Em poucas palavras, encontra-se cheio de complexidade na prova de nariz e repleto de pattine delicada na boca - uma delícia! No segundo lugar, temos um "velho conhecido" e um nosso preferido desde há alguns anos para cá. É um néctar que continua a evoluir muitíssimo bem e que revela o potencial da colheita de 2001 no Douro. Em suma, um vinho de deleite, um dos tintos nacionais mais bordaleses que conhecemos. Por fim, no terceiro lugar, temos um empate entre um lote tinto de diferentes regiões (e de dois dos mais interessantes produtores nacionais), com uma acidez viva e fruta de enorme qualidade (está para durar!), e um duriense de cetim adquirido por "tuta e meia" numa conhecida garrafeira em Madrid, ambos da colheita de 2000.
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O nosso pódio de preferidos em 2008 é então constituído por:
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  • Ferreirinha Reserva Especial (T) 1997

  • Brunheda Vinhas Velhas (T) 2001

  • Dado (T) 2000
  • Gouvyas (T) 2000

domingo, dezembro 21, 2008


A NÃO ESQUECER…

Ossian (B) 2006


Não queriamos que chegasse o nosso texto de Natal sem antes referir mais um vinho que não esqueceremos tão cedo. De novo espanhol (raios!), mas desta feita branco. Acresce que, pelo menos ao nível de complexidade e de prova de boca, esta foi a melhor surpresa que provámos este ano em termos de vinhos brancos. O que, a nosso ver, não é obra simples, dados os vários bons brancos nacionais de 2007 e, claro, os muitos brancos provenientes do resto do mundo por nós provados.

Trata-se do Ossian (B) 2006, fruto de uma vinha prefiloxérica, ou seja com bastante mais que cem anos (segundo o produtor com mais de 150 anos) localizada próximo de Segóvia (Rueda) e que estagia quase um ano em carvalho. Falta ainda esclarecer que é uma vinha de uma casta só, nem mais nem menos que a fantástica verdelho e que o vinho é produzido segundo os princípios da agricultura biológica (ou seja, sem nenhum tipo de produtos químicos) e fermentado con leveduras autóctonas. Pois bem, temos então um 100% verdelho e logo de vinhas velhas, e que verdelho… Amarelo carregado no copo, revela-se imediatamente compacto. No nariz, lança de início um aroma áspero, duro, vegetal seco, tudo a dizer que é um branco de força, de complexidade e de arrebatamento. Depois surge ligeira tosta, fruta cozida e fruta tropical, ligeiro floral e madeira de móvel antigo. Mineralidade muito boa (quem acha que o galego "As Sortes" é mineral tem de provar este), boca cheia e untuosa, corpo amplo, extremamente estruturado, é como se fosse "um tinto de uva branca". Final prolongadíssimo, novamente duro e seco, uma austeridade que se aplaude e que tantas vezes faz falta aos brancos que se querem com longevidade. Onde não ganha em subtileza e elegância, ganha em força, complexidade e amplitude. Um branco de despertar paixões!

O melhor de tudo é que se vende por cá. Custa entre € 30 a € 35, e compra-se nas Coisas do Arco do Vinho (Lisboa) ou na Tio Pepe (Porto). Aproveitando o espírito consumista cada vez mais presente no Natal, é caso para dizer "toca a comprar"!

17,5

quarta-feira, dezembro 17, 2008


A NÃO ESQUECER...


Aalto PS (T) 2005

Tanto tempo sem escrever sobre vinhos "além-Pátria" e, logo agora referimo-nos a dois quase numa assentada. Primeiro foi o super syrah australiano do texto abaixo, agora o também soberbo espanhol Aalto PS (T) 2005. E, ao contrário do que tanto pregamos a favor de tintos de lote, temos aqui outro monocasta, desta feita de excelentes clones de tempranillo, ou melhor "tinto fino", como preferem as gentes da região.

Produzido só em anos excepcionais, este Aalto PS é o topo de gama da marca Aalto com vinhedos na Ribera del Duero (PS significa "pagos seleccionados"). Naturalmente, é um vinho ainda muito jovem (em comparação com o Amon-Ra, o australiano parece estar mais pronto a beber) que terá de esperar tempo em garrafa. Completamente negro no copo, começa por revelar-se tímido no nariz. Está muito sério, como convém num tinto deste tipo, todo ele potente e intenso. Ainda no nariz, o carvalho pouco se sente apesar dos mais de 15 meses em barricas novas, sendo ao invés marcado por fruta preta, ligeiramente confitada, cacau e uma nota balsâmica agradável e fresca (um after-eight que não se sente em anteriores edições do vinho). Na boca apresenta-se com um estilo moderno, muito concentrado, e portanto longe do estilo clássico que marcou os vinhos espanhóis nas décadas passadas. Durante toda a prova mostra-se amplo e com taninos que secam a boca mas não agridem, acidez domada (mas ela existe), enfim tudo a garantir longevidade. Final de boca longo, mas a este respeito acreditamos que vai crescer.

Com um preço superior a € 75, é uma prova inequívoca como taninos e acidez não significam um vinho menos atraente. Este Aalto PS (T) 2005 conjuga num só, atracção, potência e intensidade, de uma forma como poucos outros vinhos provados este ano o fizeram. Muito bom mesmo. Não vamos esquecer!

18

quinta-feira, dezembro 11, 2008


A NÃO ESQUECER...


Amon-Ra (T) 2006

Perguntam-nos quais os tintos que bebemos este ano e que vamos ter muita dificuldade em os esquecer…

Como a pergunta não especifica, e este blog anda muito nacional (logo nós que somos fãs também de vinhos de outras paragens), somos tentados a escrever que um dos grandes destaques do ano vai para o Amon-Ra 2006, um super Syrah (ou Shiraz como diz o rótulo) de Barossa Valley (Austrália). Proveniente de vinhas com mais de 100 anos, e com um estágio de 15 meses em carvalho francês e americano, revelou-se espesso do início ao fim da prova, um monumento de presença, de estrutura e de corpo. Nariz com um ataque imenso a fruta em camadas, toda muito escura (amoras e cassis) e madeira quanto baste para aguentar a fera. Na boca então nem se fala (para nós, é na boca que um óptimo vinho se distingue de um bom)... pois todo ele revela o seu esplendor: ora cremoso, ora carnudo (lembra um Porto vintage mas sem a doçura), sempre nada pesado, antes fresco e, como se espera de um vinho deste calibre, com um final muitíssimo prolongado (+ou- 10 segundos). O preço é upa upa, bem acima dos € 100 (pelo que, em rigor, é difícil recomendar este vinho, mais a mais julgamos não haver importação para a nosso país), mas comparado com outros com o mesmo preço (nacionais e estrangeiros) este, a nosso ver, brilha... E brilha muito!


18 +

terça-feira, dezembro 09, 2008


"Retaste" 3:

Evel Grande Escolha (T) 2003

Mais uma prova de um vinho que já não provávamos faz algum tempo e foi logo a vez de um dos tintos favoritos dos enófilos iniciados, e não só! E esta prova demonstra bem que existem muitas razões para o seu sucesso. Desde logo o preço, estável e não especulativo, depois o facto de não ser preciso andar de loja em loja à procura pois é de fácil acesso e, por fim, porque é bom e evolui bem. Bem sabemos que só passou meia década desde a tórrida colheita de 2003, mas também é verdade que já vimos evoluções "estranhas" em alguns durienses... No caso deste Evel GE tudo isso passou ao lado e está, numa palavra, interessantíssimo, talvez até mais do que na prova anterior (ver aqui).
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Mantém uma cor cereja escura, mas agora com mais transparência no bordo. O nariz perfumado mantém-se focado na fruta mas a típica madeira nova já está a caminho da total integração, carácter ainda fresco com leve menta (na prova anterior as sugestões eram também balsâmicas). Boca muito capaz, mantém-se naturalmente arredondada, com fruta de qualidade e nada monótona. Final de boca que prima pela elegância mas a faltar alguma extensão. Em suma, (mais) um belo Evel nem belo momento de forma.


17

sexta-feira, dezembro 05, 2008


Olho de Mocho Reserva (B) 2007

Interrompemos os textos de "retaste" para dar nota de mais um belo branco de 2007. Cor amarela com muitos laivos esverdeados. Nariz característico da casta - é um 100% Antão Vaz - com notas subtis a maças verdes e ligeira referência mineral. Enfim, tudo pouco exuberante como (nos) convém! A boca surpreende pela frescura mas está, a nosso ver, um pouco abaixo da prova olfactiva. Fresca, ampla, peca o fim de boca pouco pronunciado.

Em suma, um bom conjunto, mais um belo Antão Vaz a revelar que a Vidigueira, e arredores, são um dos terroirs de eleição desta nobre casta nacional. A menos de € 10 tem um preço justo, existindo contudo uma ou outra melhor compra.


16
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Próximos vinhos: Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006; Herdade do Perdigão Reserva (T) 2004; Casa Burmester Reserva (T) 2006; Curva Reserva (T) 2006

quarta-feira, dezembro 03, 2008


"Retaste" 2: Projectos/Vértice/Cossart


Mais uma prova, ou melhor "nova prova" esta de que vamos referirmo-nos a seguir. Primeiro revisitámos o Projectos Niepoort Chardonnay (B) 2004, depois o Vértice Grande Reserva (T) 2003 e, finalmente, uns tragos de um dos mais simpáticos madeiras jovens, o Cossart Gordon Bual Colheita (M) 1995.

Projectos Niepoort Chardonnay (B) 2004: Começando, naturalmente, pelo Chardonnay diga-se que, não estando num mau momento, já o provámos um pouco mais fresco e vibrante (aqui), apesar da acidez nunca ter sido o seu forte. Mantém-se gordo, untuoso e com um nariz bem maduro. Porém, revela agora algum peso excessivo... Sirva-se de aperitivo a acompanhar um paté simples. Para projecto, mais a mais nacional, está muito bem, mas não chegou a alcançar a mineralidade de um chablis. Diríamos que a beber este ano ou ainda em 2009. 16 -
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Vértice Grande Reserva (T) 2003: Depois provou-se um dos tintos que mais fama agraciou no passado recente junto dos enófilos, em especial por ser uma boa compra dado a óptima relação preço/qualidade. Mantém-se escuro no copo, mas o nariz, excessivamente centrado na compota e na geleia de frutos pretos, perdeu muita intensidade e expressão aromática. A boca também está uns furos abaixo do que em anteriores provas (aqui), parece ter perdido complexidade e tornou-se demasiado rústico e algo difuso nas referências a fruta. Diríamos que a beber nos próximos tempos, talvez mais um ou dois anos. 16
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Cossart Bual (M) 1995:
Por fim o madeira. Muito jovem para ser um madeira de classe, está contudo vincado nas referências a flor de laranjeiro e revela-se (como se esperava) quase perfeito na acidez. Falta viscosidade e falta um final interminável, mas é uma boa compra em todo o caso. Pode bebê-lo durante muitos mais anos. 15,5 ++
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terça-feira, novembro 25, 2008


"Retaste" 1: Gouvyas (T) 2000

Durante um mês, voltámos a provar vinhos que já não provávamos faz algum tempo. O que encontrámos? Aqui vai um dos primeiros... e logo uma surpresa (ou talvez não).

No caso deste Gouvyas (T) 2000, encontrámos um dos mais surpreendentes tintos que bebemos este ano de 2008. Comprado por uma ninharia na "Lavinia" de Madrid (se o João Roseira soubesse ficaria louco...), mantém-se escuro, muito escuro no copo (podia ser de 2002 ou de 2003). Bouquet perfeitamente evoluído (evoluído, não gasto), com fruta e madeira em destaque - tudo muito presente como se os anos não tivessem passado. Está agora mais perto de um tinto universal do que regional pois o carácter rústico dos primeiros anos transmutou-se em pura elegância. Boca sedosa de entrada cordial, final pastoso e longo, muito longo.
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Nem todas as garrafas estarão como esta, e são poucos os que ainda têm este Gouvyas... Em todo o caso para os que têm exclamamos nós: Sortudos!


17,5 ++
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segunda-feira, novembro 17, 2008


Rocim (T) 2005

Já nos referimos anteriormente (ver aqui) ao projecto alentejano Herdade do Rocim. Hoje vamos defrontar-nos com o tinto de entrada de gama do respectivo produtor, Rocim de seu nome. A partir de Aragonês, Syrah e Alicante, apresenta fruta madura no nariz e uma leve "brisa amendolada". Boca polida e atraente, com taninos muito discretos a pedir consumo imediato, este é um tinto para ser bebido novo e, nessa vertente, pode constituir um best-seller, assim a distribuição o consiga (mas não deixa de ser um mistério o facto de estar para prova um tinto de 2005, quando o reserva de 2006 foi agora lançado). Um excelente vinho para o dia-a-dia, para quem quer/pode pagar cerca de €7,5 ou um pouco mais por garrafa. A mais de €9 encontrará outras opções.

15


Próximos vinhos: Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006; Herdade do Perdigão Reserva (T) 2004; Casa Burmester Reserva (T) 2006; Curva Reserva (T) 2006

sexta-feira, novembro 14, 2008


Quinta do Frei Estevão Reserva (T) 2005

Cor retinta, tonalidade cereja escura mas não opaco. Boa intensidade aromática, com as primeiras sensações a álcool, vegetal seco e ligeiro licor de amêndoa amarga, anis e noz-moscada. Indicia portanto uso de madeira e fruta próxima da sobrematuração. Desenvolve ainda um registo mais animal, lã molhada, sempre com um fundo de fruta muito madura e ligeiro floral.

Na boca voltam a surgir as notas licorosas, não apenas a amêndoa mas também em referências a compota de ameixa. Perfil arredondado, apenas com um ou outro tanino mais duro. Uma hora depois, decantado, mostra ter boa matéria-prima, carácter lácteo, chocolate amargo no final de boca. Admitimos, contudo, ser preciso mais trabalho na adega para subir de patamar.

Em suma, é um bom vinho, e logo com duas facetas. No início revela ser um duriense de gema daqueles com perfil gastronómico; depois, abre numa versão bem mais acessível e sedutora. Melhorou tanto com a oxidação que acabamos mesmo por subir meio ponto à classificação que inicialmente tínhamos pensado para ele. O preço andará por volta dos €10 sobretudo nas garrafeiras do Porto.


15,5-16


Próximos vinhos: Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006; Herdade do Perdigão Reserva (T) 2004; Casa Burmester Reserva (T) 2006; Curva Reserva (T) 2006

quarta-feira, novembro 12, 2008


NOVIDADE:
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Vila Monte Oaked Rosé 2007
(by Barranco Longo)

Por esta é que ninguém esperava! Não é uma novidade mundial, mas a nível nacional julgamos ser o primeiro caso de um rosé 100% com estágio em madeira. E logo oriundo de Algoz, (onde fica?) em pleno Algarve, outra peculiaridade num Portugal vinícola que há muito esqueceu a região mais solarenga do país… O que já não é novidade é que o projecto Barranco Longo, fruto da persistência de Rui Virgínia em "lutar contra a maré", apresenta tintos e brancos de perfil internacional, e tem no seu portefólio um rosé (que não este de que vamos falar de seguida) que tem sido um best-seller nos últimos verões.

Numa apresentação recatada, em plena noite de São Martinho e com um menu muito apropriado, provou-se então a novidade, resultado de uma colaboração entre o Vila Monte Resort e a Quinta do Barranco Longo. Desde logo, muito curioso o facto da passagem por madeira fazer com que este rosé revele uma vertente multifacetada, que tanto acompanhou com vigor as castanhas a solo no início como, já na sobremesa, mediu forças com bravura com um pudim das mesmas. O facto de ser lançado agora, em pleno Outono, denota a preocupação de colocar este produto num segmento não coincidente com a imagem de rosés frescos próprios e típicos da estação estival.

Na prova, mostrou ao olhar uma cor salmão carregada sem laivos acastanhados. O nariz apresentou-se com as típicas notas a morangos silvestres provenientes da casta Aragonês, mas apenas em segundo plano (já agora, a par do Aragonês, entra no lote Touriga Nacional). De facto, em evidência estão antes sensações a folha queimada e caruma, enfim sensações que aumentam a complexidade aromática do vinho. Tudo ainda com muita especiaria, mas sem excessos. Na boca, mostrou uma opulência única considerando que se trata de um rosé. Tudo arredondado e de cariz glicérico; enfim um rosé diferente: gordo mas não enjoativo. Só o final de boca que podia ser mais seco, mas isso seria pedir "o céu e a terra" tudo junto.

O álcool não ajuda ao consumidor, com os 14.º (vol.) que o produtor entende serem inevitáveis dada a singularidade do vinho (somos tentados a concordar, mas menos um grau era melhor, mesmo com o risco de perder algum toque glicérico). Por isso, não se esqueça de o servir um pouco menos fresco do que os rosés típicos de Verão, e não tenha receio de o acompanhar com pratos relativamente elaborados. Por fim, desconhecemos o preço mas recomendamos muito a compra e não só pela novidade. É que gostámos muito dele!


sexta-feira, novembro 07, 2008


Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005

Sem dúvida que a gama Altas Quintas tem associada a si uma imagem de vinhos frescos, elegantes, gastronómicos, complexos e especiados. Já vimos que isso se verifica nos "Crescendos", tanto na versão rosé como branco (ver aqui), e sobretudo nos tintos (aqui e ali). Mas sempre aspirámos provar um Altas Quintas que, além das referidas qualidades, tivesse alguma dose extra de "gulodice"... nada que desvirtuasse os atributos da marca, mas que lhe pudesse acrescentar algo mais. Sempre procurámos, em suma, um Altas Quintas que além da frescura mostrasse intenso calor na referência a fruta madura; que conciliasse a elegância à robustez de corpo; que fosse gastronómico mas também sedutor, sobretudo no final de boca; que continuasse a ser complexo e especiado no nariz mas fosse, simultaneamente, acessível e prazenteiro de imediato na boca.

Encontrámos, e a menos de €20! É este Mensagem Aragonês (T) 2005.

17-17,5


Próximos vinhos: Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

terça-feira, novembro 04, 2008

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A "arte" de bem duvidar
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Não há muito tempo, num jantar bem animado entre amigos, bebemos (não foi uma prova) um belo alvarinho português a par de um também belo albarinho galego e ainda outros dois tintos. O albarinho galego assumia a passagem por madeira enquanto o minhoto indicava apenas inox. Como nós por aqui não bebemos rótulos - e muito menos provamos -, escrevemos num caderno de provas a nossa primeira impressão sobre ambos os vinhos. Alguns dias depois, após maior reflexão, desenvolvemos o escrito e colocámos no blog (ver aqui) sem atribuir nota como é habitual quando bebemos/provamos vinhos em jantares.

O mais curioso, é esta a razão do presente texto, é que ambos os vinhos nos pareciam ter passado por madeira. O galego claramente com notas amanteigadas que não podiam dever-se apenas ao batonnage. O minhoto, apesar de menos evidente, também parecia indicar isso mesmo, sobretudo no nariz, levemente fechado num ligeiro aroma eventualmente típico do uso do carvalho. Repetimos o que já dissemos, "como nós por aqui não bebemos rótulos", escrevemos no blog isso mesmo, ou seja que o nariz parecia denotar a passagem, ainda que ligeira, por madeira.
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Sucede que, nos dias seguintes à publicação do texto, dois foram os comentários no sentido de que o vinho minhoto não tinha madeira e que, assim, o mais provável é que não tínhamos provado bem (apelidou-se de "calinada" o suposto lapso). Um dos comentário insinuava que tínhamos bebido demais e que tal vinho não podia, em caso algum, ter passagem por madeira pois tinha uma mineralidade única em Portugal. Como sempre, não apagámos nenhum dos comentários, e demos o privilégio da dúvida a quem, por vezes apenas a título enciclopédico, sabe sempre (nem que seja pelas revistas) se determinado vinho tem ou não madeira. Quanto a nós, e também andamos nisto faz algum tempo, assumimos sempre o lapso e foi o que fizemos na altura.

Mais curioso é que (e já tínhamos esquecido o assunto) durante os 3 dias do EVS, foram várias as pessoas, algumas que nunca viramos antes, que nos relataram que tiveram exactamente a mesma sensação com aquele alvarinho daquela colheita. Mais ainda, outros, tanto na área da distribuição como na da crítica, confirmaram a suspeita de que o vinho tem, pelo menos, 20% de madeira. Ao invés, o produtor, que também estava no EVS, nega.

Se o vinho tem, efectivamente, 20% de madeira, então ficamos contentes pela nossa intuição. Se não tem, ficamos contentes por sabermos agora que não fomos os únicos a duvidar. Mas mais importante do que saber quem tem razão, é observar que, afinal de contas, não era assim tão certo que tal alvarinho não tivesse madeira e que, por isso, as dúvidas eram legítimas. Na prova de vinhos, aliás, quase todas as dúvidas são legítimas, e mesmo a análise a uma ficha técnica enviada pelo produtor não deve turvar a opinião (que se quer) crítica. A nosso ver, claro está.

NOG
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sexta-feira, outubro 31, 2008


Altas Quintas (T) 2005

De toda a gama Altas Quintas, este poderá ser, juntamente com o Mensagem Aragonês que trataremos daqui a uns dias, a melhor relação preço-qualidade. Produzido a partir de Trincadeira, Aragones e Alicante Bouschet e com estágio em balseiros de madeira e barricas novas de carvalho francês durante 12 meses, está como que a matriz do projecto Altas Quintas, isto é, demonstra numa assentada, 1. estrutura, 2. frescura e 3. persistência no palato. De resto, na cor está cereja escuro quase opaco. No nariz, começa por revelar madeira teimosa (ainda que equilibrada), mas é o fundo balsâmico e especiado (pimenta, cravinho, canela com baunilha) que mais cativa a par de uma fruta adocicada. Boca com cariz vibrante (mas não de perfil nervoso), carregado nas notas de chocolate preto bem visível na componente amarga e levemente picante no fim de boca.
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Claramente feito, e numa região a isso propícia, para guardar ("build to last" como os americanos dizem dos seus automóveis), vai mostrar todo o seu potencial daqui a dois ou três anos e beber-se bem até 2015. Se conseguir comprar a menos de 18€ e quiser ou puder guardá-lo, vai valer muito a pena. Se for para beber novo, acompanhe com comida pesada.


16,5-17


Próximos vinhos: Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

domingo, outubro 26, 2008


NOVIDADE:

Vale de Pios (T) 2005

Absolutamente opaco este tinto, com laivos violeta e ligeira espuma. Muito aroma touriga, podia mesmo ser um monovarietal, mas o rótulo lateral esclarece que além da Touriga Nacional (maioria) tembém entra no lote Touriga Franca e Tinto Cão. Não espanta, portanto, o estilo todo ele "Porto Vintage", daqueles secos como nós gostamos. Mais a mais, existe aqui neste duriense um mão de enologia da equipa da Taylors e... está tudo dito. Em suma, tinta da china, referências florais discretas mas presentes (não está muito "falador"). Na boca é um bloco, a precisar de tempo em garrafa (ainda vai evoluir...), e revela um lindo final seco. Não gostei? Pelo contrário, adorei! A menos de €20 recomenda-se em absoluto a quem o encontrar.


17-17,5
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quarta-feira, outubro 22, 2008


Olho de Mocho (R) 2007

Com este texto iniciamos um périplo em redor dos vinhos da Herdade do Rocim (mas teremos vinhos que se vão intrometer no caminho...). O enófilo mais atento, e leitor assíduo das revistas da especialidade, já saberá que este recente projecto brota da aquisição de uma propriedade alentejana sita nas planícies entre Vidigueira e Cuba. Projecto de significativa dimensão e investimento, conta já, além da vinha plantada, de adega e demais instalações modernas e, quase quase, um turismo rural. À frente do projecto está a Eng. Catarina Vieria, com formação na área.
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Nos vinhos propriamente ditos, a gama é bipolar: por um lado o Olho de Mocho (rosé, branco e tinto) e Olho de Mocho Reserva (branco e tinto); por outro lado, o Rocim (por enquanto apenas tinto) na base da gama. De todos, (só) ainda não provámos o tinto Olho de Mocho Reserva, tanto nas suas edições de 2005 como de 2006.

Comecemos então pelo Olho de Mocho (R) 2007 e… começamos bem. Produzido a partir de Touriga Nacional, Syrah e Aragonês, temos aqui uma bonita cor ruby intensa (entre o cereja maduro e o rosa escuro) praticamente sem laivos salmonados. Nariz exuberante de fruta vermelha (framboesa e cereja) mas também mais madura (amora), com ligeiríssimo apontamento vegetal, num conjunto que faz adivinhar doçura excessiva na prova de boca. Enganem-se! Na boca, não sendo o rosé mais fresco que já provámos de 2007, está felizmente pouco dado a excessos, é bem saboroso e com complexidade acima da média, e mostra acidez indispensável para fugir ao estereótipo do "rosé-alentejano-rebuçado". Acresce um final de boca convincente e, tudo ponderado, a conclusão que estamos perante um belo rosé, que permite combinações gastronómicas tradicionalmente apenas aptas a vinhos tintos.

A menos de €8 não é barato, mas como já desabafámos no passado recente (a propósito desde vinho), infelizmente é cada vez mais raro encontrar rosés que sejam bons e baratos... uma política de preços a mudar urgentemente neste país.

15



Próximos vinhos: Altas Quintas (T) 2005; Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

sábado, outubro 18, 2008

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Crasto (T) 2007
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De volta à "análise vinícola", de volta ao Douro, de volta à Quinta do Crasto. Depois da estreia do Crasto (B) 2007, da continuidade tranquila proporcionada pelo Quinta do Crasto Reserva (T) 2006 (também conhecido por "Vinhas Velhas"), eis o mais pequeno Crasto. Esgotado que está o tinto de 2006 é caso para provar já o mais recente 2007.
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Ora, de tudo o que se pode dizer deste tinto sem madeira (unoaked para os anglo-saxónicos), é que, em pequena escala pois claro, revela ter duas das melhores características dos seus irmãos mais velhos. Em primeiro lugar, a "fruta Crasto", quer isto dizer uma calda de frutos vermelhos e outros pretos bem maduros num conjunto sedutor. Depois, o "carácter aveludado" de alguns grandes Crasto também aqui se sente (ou melhor, pressente), o que é algo extraordinário se pensarmos que o vinho, para além de custar menos de €9, foi produzido, pela primeira vez, com uma percentagem de uva de uma nova quinta no Douro Superior recentemente em exploração.
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É, naturalmente, um vinho bem mais simples do que os restantes da gama, muito mais directo e com uma acidez menos domada (lá está a falta da madeira) e corpo de menor concentração. Mas que sabe bem, isso sabe, e acompanhará muito bem uma miríade de pratos de gastronomia portuguesa. Com este tinto não é preciso ter cuidados... é por no copo e já está!
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15,5


Próximos vinhos: Olho de Mocho (R) 2007; Altas Quintas (T) 2005; Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2006; Olho de Mocho Reserva (B) 2007; Herdade do Perdigão Reserva (B) 2006

terça-feira, outubro 14, 2008


Feiras dos vinhos nos hipermercados
- 2 reflexões e meia dúzia de sugestões

Todos os anos a mesma situação ocorre, não importa em qual Feira dos Vinhos pois já aconteceu em todas. Desta feita, é no ECI (pelo menos no da Beloura) que se anuncia um vinho - no caso, o Valle Pradinhos (B) 2007 -, e a um preço interessante, mas nada de o encontrar nas estantes da feira. Lembramo-nos bem de várias feiras passadas em que após ter encontrado no folheto promocional um ou dois desejados vinhos nos quais iríamos investir algumas das nossas poupanças eis que, chegados ao hipermercado, não os conseguíamos encontrar. Por vezes, não era uma apenas questão de ruptura de stock, era mesmo falsa informação! Por outro lado, à excepção do referido branco de Macedo de Cavaleiros, que julgamos não existir na feira do ECI até prova em contrário (ao que parece, pelo que me dizem nos comentários, existiu no de Lisboa), pouca coisa há a registar, talvez o Herdade Grande Colheita Seleccionada (B) 2007 a menos de €5 e pouco mais, o Catarina (B) 2007 pelo mesmo preço e uma ou duas novidades espanholas.

No Continente, para além de dezenas de vinhos abaixo dos €2 (o que motivou aliás o texto de João Paulo Martins na sua crónica no semanário Expresso), o destaque segue inteiro para a promoção dos vinhos da Herdade do Meio (HdM). Com descontos de cartão, redução no preço e tudo mais, é possível, em três visitas a um Continente, comprar três garrafas de Herdade do Meio Garrafeira (T) 2003 (ou 2004) e duas de Herdade do Meio Homenagem (T) 2004, tudo por pouco mais de € 45. O cliente fica satisfeito, mas é de estranhar este tipo de promoção e avisa-nos que o projecto da HdM pode não ir na melhor direcção. É certo que se pode falar na parceria entre a Sonae (Modelo/Continente) e a HdM - vale a pena lembrar que a HdM, do empresário João Pombo, recebeu em tempos um reforço de capital, com a entrada da Investalentejo, participada da Sonae SGPS -, mas não é razão suficiente para desvalorizar o vinho. Sim, porque é de desvalorizar o vinho que se trata. Quem vai comprar a €30 (PVP na maioria das lojas) o Herdade do Meio Garrafeira 2003 ou 2004 nas lojas pelo país fora? Quem vai comprar a €30 as próximas colheitas do Herdade do Meio Garrafeira? Não nos lembramos, efectivamente, de nenhuma descida de preço recente assim tão forte, ainda que motivada por questões de parceria societária. De resto,ainda no Continente e a título de sugestões, talvez sejam boas opções o Entre II Santos (T) a menos de €3,50, o Azamor (T) 2004 a menos de €7 e o Pequeno Pintor (T) 2005 a menos de €8 e (no Jumbo, dizem-me que o Pequeno Pintor está a menos de €6) e o Grou II (T) 2006 a menos de €6.
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segunda-feira, outubro 06, 2008

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Land and Vineyards

Já tínhamos conhecimento deste conceito noutros países produtores do néctar divino, mas em Portugal a empresa Sousa Cunha Turismo e o grupo Lágrimas Hotels & Emotions serão certamente pioneiros no conceito.

Em Montemor, terra de bom vinho (assim de repente, basta lembrar o tinto Vale do Ancho), irá nascer um empreendimento de excelência que consiste em pequenos núcleos de casas que dispõe de vinha própria. De resto, e em sistema do tipo condomínio, haverá ainda uma adega comum, um enólogo comum (Paulo Loureano já se associou ao projecto), sala de armazenagem de barricas comum, winebar, etc… A cereja em cima do bolo é o facto de cada proprietário poder vir a ter "o seu" vinho, com o seu nome na garrafa, enfim com um nome que lhe apetecer… Os núcleos de casas, umas maiores que outras, umas mais isoladas que outras, são projectadas por arquitectos de renome, assim como as demais infra-estruturas.

Em suma, garantem os promotores, todo o prazer de ser um vitivinicultor (ou algo parecido), sem ter que cuidar da vinha, pagar ao caseiro, chatices com o enólogo, investir uma linha de montagem, encomendar e testar barricas, e tudo o mais… Claro está, que quem gosta de fazer as coisas integralmente à sua maneira, e aprecia o facto de se incompatibilizar diariamente com o vizinho, poderá achar pouca piada ao conceito. Para os outros, e depois de visitar o site em http://www.l-and.com/ , diríamos ser quase irresistível.

Ainda não se conhece preços, mas por ora é preciso é juntar um trocos e investir!

PS: Bem sabemos que é um pouco grosseiro reconhecer, mas não tenham dúvida que ter o nosso nome numa garrafa tem muita piada… Já tivemos uma na nossa mão e adorámos, apesar da vitivinicultura não ser um sonho nosso.

quarta-feira, outubro 01, 2008


Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas (T) 2006


Existem poucos vinhos portugueses de topo com estatuto de "neo-clássicos". Falando de tintos, temos, no Alentejo, o Marquês de Borba Reserva e o Mouchão (este mais velhinho), e alguns mais (ver comentários a este texto). Em Alenquer, temos os Quinta de Pancas mas esses, ao que parece, já eram (e não sabemos se voltam...), e o mesmo sucedeu com os reservas da Sogrape um pouco pelo país. No Dão, temos os vinhos da Quinta dos Roques, Carvalhais, e alguns tintos de Álvaro de Castro. No Douro, temos os reservas (especiais) da Ferreirinha (o Barca Velha não conta pois é clássico), o Redoma, talvez o Evel Grande Escolha mais uns e outros, e claro... o Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas (Old Vines).

Este último, na versão de 2006, e mesmo sem as uvas da vinha Maria Teresa, está curiosamente mais de acordo com o seu perfil inicial (pelo menos de acordo com a nossa ideia do seu perfil inicial) do que noutros anos. Ou seja, a fruta é ainda mais madura, com madeira vincada e sedutora na versão aparas de lápis, algum queimado, e já um muito ligeiro aroma a caixa de charutos. De corpo cheio, na boca, é quase pastoso, necessariamente jovem mas já bem equilibrado, sempre na vertente sensual. Há ainda um ligeiro travo rústico (que se repete noutros tintos durienses de 2006), e taninos "espigadotes", que evita um perfil demasiado internacional, e que nós gostamos muito.

O seu preço vai-se mantendo longe da especulação, mas o entusiasmo à volta de cada edição deste tinto faz com que por menos de € 26 seja difícil de o encontrar. Difícil de encontrar talvez, mas nada difícil de gostar. Ainda bem! Muito bem!


17 - 17,5

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Próximos vinhos: Crasto (T) 2007; Olho de Mocho (R) 2007; Altas Quintas (T) 2005; Altas Quintas Mensagem Aragonês (T) 2005; Frei Estevão Reserva (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho Reserva (B) 2007

quinta-feira, setembro 25, 2008

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Sugestões: 1 branco e 1 tinto

Não são propriamente novidades, nem sequer "vinhos de combate" (i.e., abaixo dos €3), mas sabem bem e têm preço justo. Mais coisas em comum? São durienses de gema, e ambos são apelidados por "Encosta(s)". O branco é jovem, vibrante e de firme frescura (é apenas ligeiramente curto para o nosso palato). Uma nota? 15 valores. O tinto é todo ele fruta preta, sensual, corpo redondo e taninos macios; em suma, bom vinho pronto a beber e não para guarda, a valer 15,5 de pontuação.

O branco, é o Encostas de Provezende (B) 2007. O tinto, o Encosta Longa Reserva (T) 2004. O branco, custará menos de €5. O tinto menos de €12. Pode ser que apareçam pelas feiras de vinhos que estão quase a começar...
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segunda-feira, setembro 22, 2008


Cabriz Encruzado (B) 2007

Seremos, uma vez mais, redundantes, nem que seja por coerência ou sanidade de espírito: enfim, mais um óptimo branco da colheita de 2007, ainda por cima a um bom preço! Mas desta feita seremos breves...

Neste vinho, o pior parece ser encontrá-lo. De resto, e em (curta) síntese, é todo ele mineral. Nervoso, quase crocante, frutos secos, só peca pelo registo algo monótono que a casta neste exemplar parece impor (mas só se nota ao terceiro copo...). Boca ampla, refrescante, acidez em alta mas domada com sabedoria. Intenso, inclusivamente no final de boca. Não há muito a dizer aqui: bom vinho, bom preço, boa compra (e isso reflete-se na pontuação). A menos de € 7.

16,5 - 17

Próximos vinhos: Quinta do Crasto Old Vines Reserva (T) 2006; Crasto (T) 2007; Altas Quintas (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho (R) 2007

quinta-feira, setembro 18, 2008

Provas


Valle Pradinhos (B) 2007


Já muito se escreveu sobre o tema. Nós próprios andamos a repetir-nos, mas aqui vai novamente: os brancos da colheita de 2007 têm-se revelado com uma acidez e elegância pouco vista em anos anteriores. Verão fresco e cada vez mais know-how, é que dá! Ora, acidez e elegância é coisa que nunca faltou ao Valle Pradinhos branco, até pela localização das vinhas que o compõe bem lá no alto de uma colina a breves quilómetros de Macedos de Cavaleiros (Trás-os-Montes). E isso explica a nossa tese de que na colheita de 2007 este blend das castas alsacianas Riesling e Gewürztraminer e a portuguesa Malvasia Fina não está tão distante das anteriores colheitas como outros vinhos brancos. Mas isso não o impede de estar, mesmo assim, um furo acima dos anos anteriores, o que, a nosso ver, não era nada fácil sendo, por isso, um feito com muitos méritos.

Muito brilhante na cor, irradia tonalidades citrinas e reflexos palha. O nariz mantém a imagem de marca com muitas sugestões florais (rosas), a lichias, mas também a fruta madura (melão, manga) numa calda simultaneamente exótica e sedutora. Face a anos anteriores, parece manifestar um fundo mais fresco, mais mineral, mas é na boca que a diferença da colheita mais se revela, numa frescura que percorre todo o palato, frescura essa que não o impede de ser corpulento, de se revelar encorpado e sedutor. Ao invés, é o equilíbrio que mais nos agarra e sobretudo o carácter límpido, uma vez mais próximo do mineral, que convive na boca. Novamente fruta madura (pêra), retronasal com ligeiro caroço de fruto, e final de boca saboroso em alta.

É difícil – muito difícil – não gostar deste branco e, assim, não espanta o sucesso no mercado. Tem tudo para muita e boa gente gostar… começa por ser bom (e isso é meio caminho), por ser "descomplicado" e mostrar graduação alcoólica de acordo com alguns gostos modernos (14% vol). Depois, não é caro e (dizem) evolui bem na garrafa. Nem sempre por estas razões, mas sobretudo pela frescura no nariz e limpidez na boca, nós também gostamos deste Valle Pradinhos (B) 2007 e, a título de sugestão, propomos que acompanhe um caril ligeiro e "garlic naan" caseiro.

Disponível nas melhores garrafeiras desde Junho (mas dizem que, por vezes, não é fácil de o encontrar dado o sucesso comercial), a um preço entre € 10 e €12.

16,5 - 17

Próximos vinhos: Quinta de Cabriz Encruzado (B) 2007; Quinta do Crasto Old Vines Reserva (T) 2006; Crasto (T) 2007; Altas Quintas (T) 2005; Rocim (T) 2005; Olho de Mocho (R) 2007




segunda-feira, setembro 15, 2008


Crasto (B) 2007

Vem – e provém – de uma casa afamada. De uma casa – quinta, claro seja – que produz um dos ícones do país vinícola, nada menos que um tinto profundo e aveludado resultado do sacrifício da vinha denominada Maria Teresa. Sucede que essa mesma quinta não é apenas a boutique por detrás de grandes vinhos, daqueles vinhos dispendiosos e que nos fazem sonhar. Simultaneamente, ao invés, produz quantidade (em qualidade) e tem na marca Crasto um valor muito seguro... E agora, na colheita de 2007, em versão vinho branco, talvez melhor até do que o tinto, se fosse justo a comparação, coisa que não o é…

O Crasto (B) 2007 vive de uma estrutura forte, é um vinho que não cai em "facilitismo" mas que, ao mesmo tempo (coisa nem sempre fácil de encontrar), é capaz de agradar a qualquer nariz ou palato. Muito bem na prova de nariz, sereno e pouco exuberante de início, boca com fruta saborosa bem citrina e laivos de vegetal (particularmente evidente na sugestão de espargos) e de mineral.

Produzido a partir das castas Gouveio, Roupeiro, Cercial e Rabigato, é um equilíbrio muito consensual entre frescura e estrutura. Sem ser gordo é sério. Sem ser fácil é fresco.

Cuidado com o preço que não sendo caro, anda especulativo em algumas garrafeiras espalhadas pelo país. Recomenda-se muito a sua compra a menos de € 12.

16,5


Próximos vinhos: Valle Pradinhos (B) 2007; Quinta de Cabriz Encruzado (B) 2007; Quinta do Crasto Old Vines Reserva (T) 2006; Crasto (T) 2007; Altas Quintas (T) 2005

quinta-feira, setembro 11, 2008


Feira do Vinho do Dão '08
(e breve reflexão sobre o presente da região)

Foi na passada semana que ocorreu mais um evento vínico, desta feita em Nelas a propósito de mais uma edição - e já é a 17ª - da Feira do Vinho do Dão. Dizem-nos que a feira conta cada vez com mais produtores (e com mais vinhos). Se assim for, o futuro deste evento está assegurado, tanto mais que a organização mostrou-se muito competente.

Os produtores "suspeitos" com bons vinhos são os do costume, mas diga-se, em abono da verdade, que também são cada vez mais os vinhos do Dão com muito valor. Para isso tem contribuído boas colheitas sucessivas - 2003 e 2005 muito boas, 2004 boa -, melhoria nos métodos de produção, e o efeito sempre positivo da concorrência de novos e dinâmicos produtores.

Acresce que, a par dos excelentes lotes tintos (a tradição da região, como aliás da generalidade do país, é de vinhos tintos loteados de várias castas), cada vez melhores monocastas são lançadas no mercado: é ver os encruzados, as tourigas e os alfrocheiros a pulularem nas estantes das garrafeiras e dos hipermercados.

Depois, a região já conta com a presença de casas com prestígio e alguma tradição, daquelas que produzem, por regra, bons vinhos independentemente da colheita. Sucede, ainda, que algumas dessas casas (eg., Global Wines e Sogrape) são autênticos gigantes o que também fortalece a região, nomeadamente a nível de dimensão. Por fim, surge o turismo que pretende emergir na região à semelhança do que hoje já vem acontecendo sobretudo no Douro, mas também no Ribatejo e no Alentejo, tendo sido apresentado o projecto do Museu do Vinho do Dão que ficará sito na bonita vila de Santar. Tudo boas notícias!

O interesse numa Feira do Vinho do Dão é, portanto, muito e multifacetado: se, por um lado, temos interesse em provar os novos vinhos das "casas clássicas", por outro lado é impossível resistir a degustar as novidades provenientes de projectos mais recentes. Quantos aos referidos suspeitos do costume, destaque nosso para os tintos da Quinta do Perdigão, todos eles equilibrados como é apanágio da casa (realce para o rosé '07 e o apelativo touriga nacional '05). Depois, não podíamos evitar em referir a Quinta dos Roques que mais uma vez produziu um excepcional encruzado na colheita de 2007 (talvez o melhor de sempre da casa) e tem no Garrafeira '03 um tinto em óptima fase de evolução (quando ao afamado Flor das Maias, gostámos dele mas pensamos que é preciso esperar para ter uma melhor ideia do seu potencial). Também muito bons os vinhos dos produtores Casa do Cello/Quinta da Vegia (mantém-se em forma os reservas '03 e '05), Quinta das Marias, este com um touriga '06 já em boa forma mas a pedir estágio em garrafa, e Vinha Paz com um excelente reserva '03 (aliás, os grandes tintos de 2003 do Dão parecem estar todos já em óptima fase para consumo, mas podem evoluir).

Nas "revelações", ainda que não sejam produtores propriamente novatos, destaque para Quinta do Margarido com mais um belo encruzados '06 (aguarda-se com expectativa o '07) e um curioso espumante 100% touriga, e para a Quinta da Fata com um touriga nacional '06 mais "sobremaduro" que o '05, mas também mais apelativo. Também interessante a Quinta Mendes Pereira que apresenta já uma gama interessante e vasta de vinhos tintos e brancos.

Para o ano, nova edição...
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domingo, setembro 07, 2008


Douro Boys Masterclass '08


Numa combinação feliz de requinte e boa disposição decorreu, no passado dia 3 de Setembro, a prova Masterclass dos Douro Boys nesta edição de 2008. A par da inauguração oficial da Quinta de Nápoles (Niepoort), estava em causa provar as novidades/lançamentos dos mais recentes vinhos dos "cinco fabulosos do Douro", o mesmo é dizer os tintos da colheita de 2006 e os brancos de 2007 dos produtores Quinta do Vallado, Niepoort, Quinta Vale D. Maria, Quinta do Crasto, e Quinta do Vale Meão. Mais do que um relato "vinho-a-vinho", importa a apreciação geral, e esta foi a de que os tintos portaram-se melhor do que se vulgarmente se diz da colheita de 2006 (o que não é de espantar dada a reconhecida qualidade dos produtores), mostrando, no geral, fruta madura, taninos robustos e um ligeiro perfil rústico. Já os brancos de 2007, esses estão como se vai divulgando, ou seja, estão muito bons, com enorme frecura e acidez, alguns deles mesmo sublimes!

Em todo caso, existe sempre lugar para alguns destaques e, nos tintos, brilharam os taninos duros mas saborosos do Quinta do Vallado Reserva, a finesse de mais uma colheita do Charme (apesar do Redoma e do Vertente não chegarem, a nosso ver, ao brilho de colheitas anteriores), mas também a sedução dos Quinta do Crasto Touriga Nacional e sobretudo do Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa (este, sem dúvida, um dos melhores de toda a prova) bem como o cosmopolitismo do CV (bem mais fresco e complexo que o Quinta Vale D. Maria e longe de uma estranha acidez revelada pelo VZ). Quanto ao Meandro, mostrou garra, fruto saboroso; já o irmão mais velho, o Quinta do Vale Meão, apesar de ainda circunspecto, vai-se mostrando potente, com um final luxuoso, e tudo indica que será (uma vez mais) um grande vinho.

Destaque, nos brancos, para a evolução muito positiva dos Quinta do Vallado (o ano ajudou é verdade, mas parecem-nos mais bem feitos, com uma frescura irrepreensível e boa relação preço-qualidade). Muito bem também a estreia da Quinta do Castro (mas guardamos uma apreciação mais completa do Castro branco para um post a ele dedicado), um pouco mais complicado o VZ da Quinta Vale. D. Maria que nos parece, à semelhança do tinto, com um perfil demasiado ácido e nervoso (mas pode ser do engarrafamento precoce). Finalmente, os brancos da Niepoort são um caso à parte: o melhor Tiara de sempre e o melhor Redoma Reserva de sempre... este está mesmo um vinho verdadeiramente enorme!

Em suma, uma eficiente organização, uma bonita adega, belíssimos vinhos, e uma festa inesquecível que terminou pela noite dentro apesar da chuva teimosa.
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sábado, agosto 30, 2008



Altas Quintas Crescendo (B) 2007 Altas Quintas Crescendo (R) 2007

Mais dois "Crescendo" deste projecto sito no Parque da Serra de São Mamede, desta feita o rosé e o branco, ambos da colheita de 2007.
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O rosé, 100% aragonês, mostra-se vestido de um rosa "choc" fechado, com tonalidades violetas e arroxeadas. Nariz que começa com referências curiosas a espuma de café expresso que depressa se dissipam com o aproximar da fruta fresca, morango, framboesas, tudo fruta vermelha pouco madura. Boca ampla, de fácil ataque, com fruta gulosa e saborosa. Não sendo cansativo é, contudo, algo pesado. Poderá ser um rosé friendly para acompanhar pratos mais complexos ou servidos em dias quentes, bem como para aqueles consumidores que acham que todos os rosés têm pouca estrutura na boca. Este está feito com "peso e medida" e revela-se muito amigo da mesa. 15,5

O branco mostrou-se fresco também, mas esperávamos mais. Admitimos: pensávamos que a altitude podia ter dado mais a este branco... O lote é de verdelho, arinto e fernão Pires e, a par de nuances vegetais e uma fruta tímida, falta-lhe acidez. O problema pode ser nosso, pois ainda não conseguimos "dar vivas" a vinhos nos quais estivesse presente uma dose significativa de fernão pires. Na boca mantém o perfil vegetal, mas a falta de acidez não é tão evidente. Ao invés, revela volume e persistência, bem como um final de boca com significativa complexidade e prolongamento. Não deixa de ser uma boa escolha, mas talvez seja de consumir lá mais para o Outono ou mesmo durante o Inverno.
15
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Próximos vinhos: Crasto (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2007; Quinta de Cabriz Encruzado (B) 2007; Quinta do Crasto Old Vines Reserva (T) 2006; Crasto (T) 2007; Altas Quintas (T) 2005

quarta-feira, agosto 27, 2008


Altas Quintas Crescendo (T) 2005

Produzido a partir das castas aragonês e trincadeira, com estagio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano, este é a entrada de gama nos tintos do projecto Altas Quintas, néctares que provém de vinhas plantada a cerca de 600 metros em plena Serra de S. Mamede (Alto Alentejo). Sem dúvida: projecto ambicioso, de marketing competente e aguerrido (mesmo junto da restauração); em suma, não existe enófilo que não conheça, ou que não vá conhecendo...

Cor granada, pouco escura. Nariz com um primeiro impacto a madeira, não na versão doce (baunilha, caramelos) mas na versão austera (apara de lápis) com notas ainda a cravinho e canela (muita especiaria presente). Depois vem uma fruta tímida no início, madura (mas não sobremadura) e saborosa, à qual só falta intensidade. Mas parece que é feitio... não é defeito.

A boca mantém um perfil pouco exuberante, mas muito recompensador no que concerne a complexidade e frescura. Um vinho que não cansa e com clara propensão gastronómica. Se a fruta está madura no nariz, na boca é a frescura que mais brilha. Final de boca apimentado que lhe dá uma graça adicional!

Com 14% vol., é um tinto que procura um consumidor experiente que privilegia a complexidade à exuberância banal. A menos de €9 não é propriamente barato mas quem gostar do estilo (nós gostamos) não se vai arrepender.


15,5


Próximos vinhos: Altas Quintas Crescendo (B) 2007; Altas Quintas Crescendo (R) 2007; Crasto (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2007

terça-feira, agosto 19, 2008


Três anos depois... (ou «tintos e brancos mais frescos»)


Já lá vão praticamente três anos e meio de Saca-a-Rolha. Não será, certamente, tempo suficiente para fazer uma resenha (muito menos histórica) sobre a evolução dos vinhos nacionais, mas servirá, a nosso ver, para constatar duas tendências que consideramos muito positivas no mercado doméstico. Em bom rigor, trata-se apenas de uma única tendência (admitimos nós) mas com duas manifestações...

A primeira delas relaciona-se com a produção de vinhos tintos mais frescos e gastronómicos em claro contraponto com a tentativa de seguir o modelo dos tintos do "novo mundo", bem visível nas colheitas compreendidas entre 1997 e 2003. De facto, sobretudo desde a colheita 2004 - já de si uma colheita ideal para vinhos com boa evolução -, surgiriam cada vez mais tintos com um perfil acentuadamente sério, constituindo disso bons exemplos, entre vários outros, o transmontano Vale Pradinhos Reserva (T) 2004 (a menos de €20), os durienses Quinta da Sequeira Grande Escolha (a menos de €25) e o Pinote (T) 2005 (a menos de €12), bem como vários tintos alentejanos como os que resultam do projecto Altas Quintas (com preços entre os €9 e os €30), mas também o Roma Pereira (T) 2005 e claro o super-taninoso Grou (T) 2005 (ambos a menos de €20). No Dão nem se fala tantos que são os tintos nesse registo fresco e gastronómico, apesar dos alegados abusos no uso da touriga nacional... quedamo-nos, quanto a exemplos, pelo Quinta da Vegia Reserva (T) 2005 (a menos de €25) e pelas monocastas tourigas da mesma colheita provenientes quer da Quinta do Perdigão (a menos de €25) quer da Quinta da Fata (a menos de €20).

A segunda manifestação é a busca por brancos também eles cada vez mais frescos, com uma boa acidez e, em alguns casos, secos. Nos brancos, a colheita de 2005 e, sobretudo, a de 2007, possibilitou a produção de vinhos de qualidade muito elevada. A par de diversos verdes (Soalheiro, Muros de Melgaço, Ameal, Lixa, etc), vários são os brancos do Douro e do Dão que, não sendo muito caros, começam a ser um caso sério no que respeita a níveis de frescura, abandonando assim modelos de produção onde a madeira nova se encontrava muito marcada e se pretendia vinhos pesados e exageradamente untuosos. São caso disso, no Douro, os recentes Trilho (B) 2007 (a menos de €15), o Encosta Longa Reserva (B) 2007 (a menos de €10), o perfumado Aneto (B) 2007 (a menos de €15) - para não falar dos Niepoort, com destaque para o delicioso Tiara (B) 2007 (a menos de €15) - e, no Dão, o Quinta do Cabriz Encruzado (B) 2007 (a menos de €10) ou o Quinta dos Roques Encruzado (B) 2007 (a menos de €12). No Alentejo, são igualmente vários os brancos cada vez mais frescos, com destaque evidente para os produzidos a partir da casta antão vaz e, a título individual mas ainda como mero exemplo entre outros, para o Conde de Ervideira Reserva (B) 2007 (abaixo dos €10). Mas, claro, não nos ficamos por estas regiões, nem pela colheita de 2007, bastando para isso fazer notar a excelência do Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006 (a menos de €13), um belíssimo vinho da Estremadura logo num ano particularmente difícil para a produção de brancos frescos e secos.

Com o suposto "aquecimento global do Planeta" (que não se nota nem um pouco neste Verão de 2008, à semelhança do que sucedeu em 2007), são duas óptimas manifestações de uma mesma óptima tendência (repetição à parte); dizemos nós em forma de festejo!
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Ora, foi exactamente num festejo que tirámos a fotografia que se encontra no canto superior direito deste texto. Evidentemente, foi necessária uma considerável dose de acaso e (sobretudo) de sorte para a conseguir (os leitores sabem bem que a fotografia não é o nosso forte...), mas julgamos que fica muito bem a encabeçar esta pequena nota escrita respeitante à passagem de mais de três anos do blog Saca-a-Rolha.
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PS: Quanto aos vinhos da fotografia, o Chryseia (T) 2006 está ainda "fechado", e revela-se por ora um pouco austero; o Quinta do Crasto Maria Teresa (T) 2005 mantém-se simplesmente sublime. Ambos os vinhos são caros e, por isso, recomenda-se que sejam bebidos apenas em cerimónias ou ocasiões muito especiais. Foi o caso!

sábado, agosto 16, 2008



Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006


Sita em Alenquer, a Quinta do Lagar Novo é pertença da família Carvalho: pai Luís Carvalho, coordenador do projecto, e os filhos Tiago Carvalho e João Carvalho, responsáveis pela enologia e viticultura, respectivamente. Provámos, uma vez, o branco Regional Estremadura varietal Chardonnay da colheita de 2006. A de 2007 estará brevemente no mercado.

Cor amarela palha com nuances verdes. Grande complexidade aromática, mas ainda assim directo e muito focado no nariz. Belíssimo aroma: subtil nas componentes vegetais e aberto nos registos mais frutados (eg., pêra). Bela entrada de boca, franca, fresca e muito ampla. Poucos ou mesmo nenhuns "tiques" excessivamente amanteigados ou pesados dos chardonnays mais divulgados pelo nosso país. Em suma: amplitude sem peso; secura no limite máximo (pelo menos para um ano quente como foi o de 2006); e enorme final de boca. Muito bom mesmo!

Sem dúvida, um dos chardonnays produzido em Portugal que mais gostámos faz anos! A nosso ver, está uns pontos acima do irmão viognier, mas haverá sempre quem diga o contrário e, em bom rigor, tudo dependerá do momento de consumo e da combinação gastronómica. Encontramo-nos verdadeiramente "em pulgas" para provar a versão de 2007. A menos de € 13 é um vinho obrigatório nas garrafeiras de todos os enófilos.

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Próximos vinhos: Altas Quintas Crescendo (T) 2005; Altas Quintas (B) 2007; Altas Quintas Crescendo (R) 2007; Crasto (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2007