sábado, agosto 30, 2008



Altas Quintas Crescendo (B) 2007 Altas Quintas Crescendo (R) 2007

Mais dois "Crescendo" deste projecto sito no Parque da Serra de São Mamede, desta feita o rosé e o branco, ambos da colheita de 2007.
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O rosé, 100% aragonês, mostra-se vestido de um rosa "choc" fechado, com tonalidades violetas e arroxeadas. Nariz que começa com referências curiosas a espuma de café expresso que depressa se dissipam com o aproximar da fruta fresca, morango, framboesas, tudo fruta vermelha pouco madura. Boca ampla, de fácil ataque, com fruta gulosa e saborosa. Não sendo cansativo é, contudo, algo pesado. Poderá ser um rosé friendly para acompanhar pratos mais complexos ou servidos em dias quentes, bem como para aqueles consumidores que acham que todos os rosés têm pouca estrutura na boca. Este está feito com "peso e medida" e revela-se muito amigo da mesa. 15,5

O branco mostrou-se fresco também, mas esperávamos mais. Admitimos: pensávamos que a altitude podia ter dado mais a este branco... O lote é de verdelho, arinto e fernão Pires e, a par de nuances vegetais e uma fruta tímida, falta-lhe acidez. O problema pode ser nosso, pois ainda não conseguimos "dar vivas" a vinhos nos quais estivesse presente uma dose significativa de fernão pires. Na boca mantém o perfil vegetal, mas a falta de acidez não é tão evidente. Ao invés, revela volume e persistência, bem como um final de boca com significativa complexidade e prolongamento. Não deixa de ser uma boa escolha, mas talvez seja de consumir lá mais para o Outono ou mesmo durante o Inverno.
15
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Próximos vinhos: Crasto (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2007; Quinta de Cabriz Encruzado (B) 2007; Quinta do Crasto Old Vines Reserva (T) 2006; Crasto (T) 2007; Altas Quintas (T) 2005

quarta-feira, agosto 27, 2008


Altas Quintas Crescendo (T) 2005

Produzido a partir das castas aragonês e trincadeira, com estagio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano, este é a entrada de gama nos tintos do projecto Altas Quintas, néctares que provém de vinhas plantada a cerca de 600 metros em plena Serra de S. Mamede (Alto Alentejo). Sem dúvida: projecto ambicioso, de marketing competente e aguerrido (mesmo junto da restauração); em suma, não existe enófilo que não conheça, ou que não vá conhecendo...

Cor granada, pouco escura. Nariz com um primeiro impacto a madeira, não na versão doce (baunilha, caramelos) mas na versão austera (apara de lápis) com notas ainda a cravinho e canela (muita especiaria presente). Depois vem uma fruta tímida no início, madura (mas não sobremadura) e saborosa, à qual só falta intensidade. Mas parece que é feitio... não é defeito.

A boca mantém um perfil pouco exuberante, mas muito recompensador no que concerne a complexidade e frescura. Um vinho que não cansa e com clara propensão gastronómica. Se a fruta está madura no nariz, na boca é a frescura que mais brilha. Final de boca apimentado que lhe dá uma graça adicional!

Com 14% vol., é um tinto que procura um consumidor experiente que privilegia a complexidade à exuberância banal. A menos de €9 não é propriamente barato mas quem gostar do estilo (nós gostamos) não se vai arrepender.


15,5


Próximos vinhos: Altas Quintas Crescendo (B) 2007; Altas Quintas Crescendo (R) 2007; Crasto (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2007

terça-feira, agosto 19, 2008


Três anos depois... (ou «tintos e brancos mais frescos»)


Já lá vão praticamente três anos e meio de Saca-a-Rolha. Não será, certamente, tempo suficiente para fazer uma resenha (muito menos histórica) sobre a evolução dos vinhos nacionais, mas servirá, a nosso ver, para constatar duas tendências que consideramos muito positivas no mercado doméstico. Em bom rigor, trata-se apenas de uma única tendência (admitimos nós) mas com duas manifestações...

A primeira delas relaciona-se com a produção de vinhos tintos mais frescos e gastronómicos em claro contraponto com a tentativa de seguir o modelo dos tintos do "novo mundo", bem visível nas colheitas compreendidas entre 1997 e 2003. De facto, sobretudo desde a colheita 2004 - já de si uma colheita ideal para vinhos com boa evolução -, surgiriam cada vez mais tintos com um perfil acentuadamente sério, constituindo disso bons exemplos, entre vários outros, o transmontano Vale Pradinhos Reserva (T) 2004 (a menos de €20), os durienses Quinta da Sequeira Grande Escolha (a menos de €25) e o Pinote (T) 2005 (a menos de €12), bem como vários tintos alentejanos como os que resultam do projecto Altas Quintas (com preços entre os €9 e os €30), mas também o Roma Pereira (T) 2005 e claro o super-taninoso Grou (T) 2005 (ambos a menos de €20). No Dão nem se fala tantos que são os tintos nesse registo fresco e gastronómico, apesar dos alegados abusos no uso da touriga nacional... quedamo-nos, quanto a exemplos, pelo Quinta da Vegia Reserva (T) 2005 (a menos de €25) e pelas monocastas tourigas da mesma colheita provenientes quer da Quinta do Perdigão (a menos de €25) quer da Quinta da Fata (a menos de €20).

A segunda manifestação é a busca por brancos também eles cada vez mais frescos, com uma boa acidez e, em alguns casos, secos. Nos brancos, a colheita de 2005 e, sobretudo, a de 2007, possibilitou a produção de vinhos de qualidade muito elevada. A par de diversos verdes (Soalheiro, Muros de Melgaço, Ameal, Lixa, etc), vários são os brancos do Douro e do Dão que, não sendo muito caros, começam a ser um caso sério no que respeita a níveis de frescura, abandonando assim modelos de produção onde a madeira nova se encontrava muito marcada e se pretendia vinhos pesados e exageradamente untuosos. São caso disso, no Douro, os recentes Trilho (B) 2007 (a menos de €15), o Encosta Longa Reserva (B) 2007 (a menos de €10), o perfumado Aneto (B) 2007 (a menos de €15) - para não falar dos Niepoort, com destaque para o delicioso Tiara (B) 2007 (a menos de €15) - e, no Dão, o Quinta do Cabriz Encruzado (B) 2007 (a menos de €10) ou o Quinta dos Roques Encruzado (B) 2007 (a menos de €12). No Alentejo, são igualmente vários os brancos cada vez mais frescos, com destaque evidente para os produzidos a partir da casta antão vaz e, a título individual mas ainda como mero exemplo entre outros, para o Conde de Ervideira Reserva (B) 2007 (abaixo dos €10). Mas, claro, não nos ficamos por estas regiões, nem pela colheita de 2007, bastando para isso fazer notar a excelência do Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006 (a menos de €13), um belíssimo vinho da Estremadura logo num ano particularmente difícil para a produção de brancos frescos e secos.

Com o suposto "aquecimento global do Planeta" (que não se nota nem um pouco neste Verão de 2008, à semelhança do que sucedeu em 2007), são duas óptimas manifestações de uma mesma óptima tendência (repetição à parte); dizemos nós em forma de festejo!
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Ora, foi exactamente num festejo que tirámos a fotografia que se encontra no canto superior direito deste texto. Evidentemente, foi necessária uma considerável dose de acaso e (sobretudo) de sorte para a conseguir (os leitores sabem bem que a fotografia não é o nosso forte...), mas julgamos que fica muito bem a encabeçar esta pequena nota escrita respeitante à passagem de mais de três anos do blog Saca-a-Rolha.
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PS: Quanto aos vinhos da fotografia, o Chryseia (T) 2006 está ainda "fechado", e revela-se por ora um pouco austero; o Quinta do Crasto Maria Teresa (T) 2005 mantém-se simplesmente sublime. Ambos os vinhos são caros e, por isso, recomenda-se que sejam bebidos apenas em cerimónias ou ocasiões muito especiais. Foi o caso!

sábado, agosto 16, 2008



Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006


Sita em Alenquer, a Quinta do Lagar Novo é pertença da família Carvalho: pai Luís Carvalho, coordenador do projecto, e os filhos Tiago Carvalho e João Carvalho, responsáveis pela enologia e viticultura, respectivamente. Provámos, uma vez, o branco Regional Estremadura varietal Chardonnay da colheita de 2006. A de 2007 estará brevemente no mercado.

Cor amarela palha com nuances verdes. Grande complexidade aromática, mas ainda assim directo e muito focado no nariz. Belíssimo aroma: subtil nas componentes vegetais e aberto nos registos mais frutados (eg., pêra). Bela entrada de boca, franca, fresca e muito ampla. Poucos ou mesmo nenhuns "tiques" excessivamente amanteigados ou pesados dos chardonnays mais divulgados pelo nosso país. Em suma: amplitude sem peso; secura no limite máximo (pelo menos para um ano quente como foi o de 2006); e enorme final de boca. Muito bom mesmo!

Sem dúvida, um dos chardonnays produzido em Portugal que mais gostámos faz anos! A nosso ver, está uns pontos acima do irmão viognier, mas haverá sempre quem diga o contrário e, em bom rigor, tudo dependerá do momento de consumo e da combinação gastronómica. Encontramo-nos verdadeiramente "em pulgas" para provar a versão de 2007. A menos de € 13 é um vinho obrigatório nas garrafeiras de todos os enófilos.

17



Próximos vinhos: Altas Quintas Crescendo (T) 2005; Altas Quintas (B) 2007; Altas Quintas Crescendo (R) 2007; Crasto (B) 2007; Valle Pradinhos (B) 2007

quarta-feira, agosto 13, 2008


Pinote (T) 2006

A mesma "troca" de know-how e de uvas entre Bairrada e Douro. Desta feita, é a vez do tinto que é produzido a partir de uvas do Vale Mendiz mas com enologia da Campolargo. Trata-se de um lote de vinhas velhas, com muitas castas diferentes e predomínio para a touriga nacional (cerca de 15%). O vinho vê madeira, mas quase toda com mais de um ano, e isso nota-se, como veremos adiante.

Cor cereja não muito escura, com auréola vermelho claro. No início o vinho abre um aroma simples, directo, a fruta vermelha (morango, framboesa madura), tudo muito fresco. Com a passagem dos minutos, a complexidade adensa-se mas a frescura mantém-se no copo. Uma ligeira sensação a álcool revela que o néctar ainda está pouco à vontade com a garrafa.

Na boca surge a fruta fresca, raínhas-cláudia, fruta vermelha uma vez mais, aqui e ali em camadas de fruto mais maduro. Taninos irrequietos, duros até mas saborosos. Pendor de secura, muita frescura, amêndoa amarga, coco, avelãs e ligeiro cacau amargo no fim de boca (nada de "baunilhas" a lembrar madeira nova). Bom comprimento final.

Um vinho muito diferente do que a moda tem ditado nos últimos anos e, por isso, a descobrir. Frescura e taninos rijos são as principais marcas deste tinto que promete muita longevidade (mínimo 10 anos) e isso reflecte-se no intervalo da pontuação. Óbvio carácter gastronómico para comidas pesadas. Servir a 17º ou 18º. O preço é igual ao do branco, a menos de € 70 a caixa com seis vinhos, três tintos e três brancos (ver post anterior para o Pinote branco).

16,5-17


Próximos vinhos: Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006; Altas Quintas Crescendo (T) 2005; Altas Quintas Crescendo (B) 2007; Crasto (B) 2007

segunda-feira, agosto 11, 2008


Pinote (B) 2007

Apresentado em meados de Junho em Mogofores. É a cara metade de um tinto com o mesmo nome (mas da colheita de 2006), constituindo parte de um projecto muito interessante levado a cabo por Campolargo e GR Consultores (Rui Cunha e Gonçalo Lopes). O mote foi permitir que a GR Consultores trabalhasse um lote de castas brancas provenientes da Bairrada, enquanto Raquel Carvalho, a enóloga da Campolargo, afinava um lote de vinhas velhas do Vale Mendiz (Douro).

Vamos ao branco. Provado uma vez. Apresenta cor palha. Nariz muito floral, complexo, percebendo um lote onde as flores e os frutos tropicais prevalecem sobre a frescura e acidez. Alguma mineralidade, algum doce, ligeira amêndoa-amarga (com nuance de barrica), num todo de carácter vinioso. Melhora na boca, grande ataque inicial, quase crocante, cheio e poderoso. No final, novamente um carácter ligeiramente adocicado que não chega, porém, a destoar.

As notas mais gordas e adocicadas parecem vir da responsabilidade da viognier e de algum arinto (ambas fermentadas em barrica), estando ainda presente a bical e o sauvignon blanc (ambas fermentadas em inox). Há ainda um pouco de verdelho, mas muito escondido.

Bom branco, ao qual falta talvez um pouco de acidez, mas que poderá acompanhar muito bem assados, queijos secos (eg., um plasencia) e massas tais como uns ravioli recheados de tomate (fica a nossa sugestão). Servir bem fresco, abaixo dos 14º. Brevemente à venda, em caixas de 6 - com 3 brancos e outros tantos tintos - a menos de € 70 cada caixa.


16
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Próximos vinhos: Pinote (T) 2005; Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006; Altas Quintas Crescendo (T) 2005; Altas Quintas Crescendo (B) 2007; Crasto (B) 2007

quarta-feira, agosto 06, 2008


Valle Pradinhos (R) 2007

Novíssima edição deste rosé da conhecida casa de Macedos de Cavaleiros (Trás-os-Montes) produzido com base nas castas tinta roriz e touriga nacional. No copo revela uma cor vermelho cereja, muito brilhante. Nada esbatida, nada de cores menos aguerridas por estas bandas - este é mesmo vermelho (longe dos "tons salmonados" de outros rosés), muito bonito por sinal. Nariz muito direccionado para fruta de árvore (cereja) com ligeiro floral. Fruta vermelha fresca, acídula nas referências a morangos pouco maduros (diferentes, portanto, dos clássicos de Sintra, que, como é sabido, são muito doces e pequenos). Boa entrada de boca, ampla e limpa. Novamente directo e saboroso na componente frutada, mas mantém um estilo sóbrio e ligeiramente seco na senda das anteriores colheitas.
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Em suma, alguma sobriedade num rosé de enorme frescura e acidez, excelente para acompanhar refeições de Verão (é pena o álcool com 13,80% vol.). O intervalo na pontuação aproxima-o das melhores pontuações que atribuímos a um rosé, e isso diz muito sobre quanto gostámos dele. A menos de € 7 não é propriamente barato (mas a verdade é que, em rigor, são cada vez mais raros os rosés bons e baratos...).


15-15,5


Próximos vinhos: Pinote (B) 2007; Pinote (T) 2005; Quinta do Lagar Novo Chardonnay (B) 2006; Altas Quintas Crescendo (T) 2005

segunda-feira, agosto 04, 2008


Quinta do Soque Reserva (T) 2005

Provado duas vezes, uma das quais após o rosé da mesma quinta. A partir das castas touriga nacional, touriga franca e tinta roriz, estagiou em barricas de carvalho francês. Todo ele muito internacional: na cor, no nariz e na boca. Cor cereja escura, mas não opaco, com ligeiros sinais de evolução. Nariz muito intenso a fruta madura de boa qualidade e gulosa (eg., ameixa muito madura), num conjunto onde a touriga nacional e a roriz se destacam. Excessivamente directo, por vezes algo plano, mas a boca corresponde, é agradável, arredondada e macia. Taninos discretos, aqui e ali mais marotos (talvez da madeira...). Final comprido, saboroso, com nuances fumadas, muito bem conseguido neste aspecto.
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Um estilo moderno e acessível cada vez mais presente no Douro. E porque não? Apostamos que muita gente gostará. A menos de €20 acompanhará bem uma carne de vaca bem passada, podendo ainda ser bebido a acompanhar uma sobremesa de fruto vermelho pouco doce.

16-16,5
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Próximos vinhos: Valle Pradinhos (R) 2007; Pinote (B) 2007; Pinote (T) 2005.