domingo, dezembro 27, 2009

Provas especiais


CASA FERREIRINHA '85, '86, '96 E '97

Não temos uma resposta incondicional para o fenómeno, mas a verdade é que o Inverno nos impele para a prova de vinhos com alguma idade. O frio do época poderia, é certo, aconselhar exactamente o oposto, ou seja a escolha de vinhos jovens, encorpados, cuja força, exuberância e álcool aquecessem os "espaços em volta", mas não. Decididamente, a nossa escolha tem seguido inteira para vinhos, normalmente tintos, moldados pelo tempo, vinhos com fôlego e com a subtil complexidade que só o tempo em garrafa atribui. Talvez seja afinal a Quadra Natalícia, e a inerente vontade de provar o que de melhor temos na garrafeira, que nos leva a cometer esse devaneio de abrir algumas daquelas preciosas garrafas que reservamos para uma ocasião especial. Talvez...


Este ano, regressámos à "Casa Ferreirinha" (Sogrape), um dos poucos produtores nacionais que, a par de vinhos de volume, se especializou em tintos que sabem e conseguem envelhecer de forma nobre. Este ano, regressámos a duas colheitas dos anos '80 e a outras duas da década de '90. De uma assentada, provámos - e adorámos todos eles – o Barca Velha (T) 1985, o Ferreirinha Reserva Especial (T) 1986, o Ferreirinha Reserva (T) 1996 e o Ferreirinha Reserva Especial (T) 1997. Incrível, desde logo, o facto de todos os vinhos estarem em perfeitas condições, ou seja, sem oxidações excessivas, sem cheiro a "rolha", com níveis adequados de líquido, com as rolhas firmes, todos com viva cor encarnada e todos (uns mais do que outros) com fruta ainda evidente.

Nos vinhos da década de '80, o Barca Velha (T) 1985 mostrou-se altivo, com uma cor impressionante para os seus vetustos 25 anos (próxima da tonalidade exibida pelo Reserva de 1996, onze anos mais novo...), um nariz clássico elegantíssimo onde notas a caça mortificada e fruta encarnada se moldam em harmonia até um final perfeito, fino mas longo (17-17,5). Ainda melhor que o anterior, o Reserva Especial (T) 1986 revelou-se um hino aos vinhos com evolução em garrafa: perfeito na fruta que enche o "bouquet", ainda irreverente, com enorme elegância mas também vigoroso, referências a mina de lápis e tabaco num fundo ainda nítido de frutas como cereja e groselha encarnadas; final perfeito, em crescendo, impressionante a vários títulos (17,5-18).

Depois, foi a vez dos dois vinhos da década de '90, necessariamente mais "novos", mas ambos a revelar a marca do produtor e do nome que ostentam. O Reserva (T) 1996 em bom nível, macio e aveludado, notas positivas de evolução mas ligeiramente mais linear (e menos fresco) que os restantes provados (16,5-17) e, por isso, aconselha-se bebê-lo nos próximos anos. Já o Reserva Especial (T) 1997 mostra-se com taninos saborosos, com vigor, especiado e com frescura, ainda com bom nervo, boca com complexidade em alta e final elegante. Pode ainda ser guardado mais uns anos na garrafeira (17-17,5).

Em suma, quatro grandes vinhos e a uma certeza: a de que a Casa Ferreirinha tem vinhos que sabem, efectivamente, envelhecer nobremente. É claro que sempre ficam algumas interrogações: será que a década que se aproxima nos vai trazer mais tintos destes? Daqui a 10 anos, como estará o Reserva Especial (T) 2001 recentemente lançado no mercado? Independentemente das respostas a estas (e outras) questões, certo é que todos os vinhos provados estavam óptimos e recomendam-se, merecendo destaque absoluto o Reserva Especial (T) 1986, um vinho que, com 24 anos, se mantém um gigante com "pernas para andar" na garrafeira e que, nessa medida, pode ainda ser guardado mais uns anos, sempre para os momentos especiais da vida - se poderia ter sido Barca Velha(?), talvez... mas isso, a nosso ver, não interessa nada.


Boas Festas e Feliz 2010!

terça-feira, dezembro 22, 2009

Novidade


Quinta da Covada Reserva (T) 2007

Cor muito escura, e alguma espuma violeta, a denotar juventude. No lote, onde entra uma percentagem de uvas de vinhas velhas, o predomínio é para a Touriga Nacional mas também (saúda-se pois não vem sendo comum) para a Tinta Roriz.

A prova de nariz revela uma fruta encarnada muito bonita, depois notas mais florais, a urze. Conjunto sem excessos, tudo entre o fresco e o cativante, num perfil muito duriense e gastronómico. Prova de boca saborosa, que se inicia com uma boa entrada de boca. Corpo e final de boca médios sem desmerecer, confirmando consistência ao conjunto no qual apenas a madeira está a caminho de melhor integração. Acresce um ou outro tanino "verde" (que poderá ser da madeira), devendo evoluir positivamente nos próximos 2-4 anos (pelo menos).

Mais uma bela estreia no Douro, um tinto com qualidade e carácter. Numa linha sem excessos (num ano dado a isso...), nem mesmo no preço que ficará abaixo dos €15.

16,5
+

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Provas


Quinta do Lubazim Reserva (T) 2005

Cor retinta, bem concentrada mas não opaca. Prova de nariz com boa intensidade, fruto maduro com predomínio para amoras e gingas, notas licorosas agradáveis e subtil chocolate.

A boca confirma o perfil generoso e garboso na fruta, muito saborosa de resto, cheia, quase-carnuda, de taninos redondos e final de boca correcto.

Um tinto muito consensual, que aposta sobretudo na generosidade da fruta, num carácter quase primário e autêntico não fosse o uso da barrica a atribuir-lhe uma maior complexidade. Quente de aroma e sabor, muito prazenteiro (mais a solo do que a acompanhar refeições), é um tinto que não desmerece a sua região, muito pelo contrário, é mesmo o Douro Superior numa garrafa.

A menos de €20 para quem não o tem e quer comprar, para os restantes - não esperem por ele na garrafeira pois parece estar agora na sua melhor fase.

16,5


Próximos vinhos: Arundel (T) 2007; Quinta do Francês (T) 2007; Fiuza Sauvignon (B) 2009; Negreiros (T) 2007

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Provas



Rol de Coisas Antigas (T) 2007

Muito curioso, e não só pelo nome, este tinto (mais um fruto da criatividade de Carlos Campolargo) bairradio Rol de Coisas Antigas. Nariz exótico, combinando notas adocicadas a alfarroba, urze e flores, muitas flores campestres e ligeiro couro – ao que parece, diz-nos o produtor, tanta originalidade advém do uso de castas antigas e/ou pouco utilizadas neste tempo (e daí também o nome escolhido para o vinho).

A boca apresenta-se pronta a beber, de taninos discretos, muito afinado mostrando enologia moderna, ao qual falta, todavia, alguma garra tão típica na região. Existe uma certa nostalgia exótica neste tinto, de aroma original e boca capaz.

Não sendo o melhor tinto de Campolargo (anda mesmo longe disso) merece ser descoberto, nem que seja pelo registo diferente com que se apresenta, a cerca de €10.

16


Próximos vinhos: Quinta de Lubazim Reserva (T) 2005; Arundel (T) 2007; Quinta do Francês (T) 2007; Fiuza Sauvignon (B) 2009

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Provas


Obsessão (T) 2004

Cor a revelar muita concentração e a não fazer notar que passou já meia década da vindima. No nariz, um primeiro aviso a informar que é preciso arejamento, e depois… uma imensa profundidade aromática, daquela profundidade quieta, ortodoxa, nada exuberante.


É, por isso, um tinto que precisa e merece atenção, de bons e grandes copos, e que não pode passar despercebido, nem se deve desacertar com a sua complexidade. Ainda no nariz, mas já no fim da palete aromática surge a fruta madura (quase uma surpresa dado o invólucro cheio de frescura) mesclada com especiaria fina, daquela que o produtor já nos habituou noutros tintos da marca "Altas Quintas", muito provavelmente da madeira onde estagiou por vinte meses. Boca com acidez viva a proporcionar grande frescura – a antítese de um vinho enjoativo – todo ele gastronómico, um vinho que apetece beber e com o qual apetece comer.

Muito bem! Entre €40 a €50, um tinto com qualidade (e preço) elevado que certamente irá evoluir muito bem em garrafa e, por isso, dará melhor prova nos próximos dez anos.

17,5++


Próximos vinhos: Rol de Coisas Antigas (T) 2007; Quinta de Lubazim Reserva (T) 2005; Arundel (T) 2007; Quinta do Francês (T) 2007