quinta-feira, abril 22, 2010

Provas especiais

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Prova e almoço com vinhos de Colares

Foi há dois dias que o Palácio de Seteais (segundo uma das lendas, são sete os ecos que se escutam ao gritar "ais" num dos românticos varandins do palácio) se vestiu de acrescida gala para o denominado "I Almoço de Colares", iniciativa conjunta de alguns dos mais emblemáticos produtores de vinho da região e dos Hoteis Tivoli, com coordenação do enólogo e crítico Aníbal Coutinho (iniciativa, vinhos e wine-paring) e do chef Luís Baena (refeição e wine-paring).
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Dos vinhos provados, alguns dos quais raridades e velharias (sempre no bom sentido quando se fala de um vinho, como o de Colares, que tende a envelhecer com nobreza), os mais marcantes para nós foram o Colares Chitas (B) 2006 - ainda jovem e muito cítrico, com anos pela frente, e marcado por uma acidez vibrante (16) -, bebendo agora estará perfeito a acompanhar peixes grelhados ou marisco; depois, o vinho da tarde, o Viúva Gomes Reserva (T) 1969 - com o nariz a revelar bonitas notas voláteis (com realce para verniz) e ainda um pouco de fruta, e uma extraordinária prova de boca (apesar dos seus meros 11º vol.), aveludada mas mantendo frescura até um final arrasador (17,5) -, o qual casou muito bem com a "Garoupa corada com batata grelhada e molho de mostarda de Moeux"; e ainda o Adega Regional (T) 1992, um pouco abaixo de forma comparado com o Viúva Gomes 1969 mas ainda assim bastante complexo e muito agradável com notas de fruta encarnada e ligeiro toque animal sem desagradar (16,5).
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No fim, com a sobremesa, uma proposta de "Strudel com recheio de travesseiros de Sintra e gelado de manjericão" foi servido um vinho de Carcavelos (também parte, tal como Colares, da região de Lisboa), no caso o Quinta da Bela Vista (s/d), não datado, mas com mais de 50 anos de acordo com os dados existentes e engarrafado em 1991. Seco, muito seco, de aroma bonito mas com pouca presença na prova de boca, portou-se bem com o gelado mas, a nosso ver, não conseguiu ligar devidamente com a potência doce do strudel com recheio de travesseiros (16).
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Antes do almoço, tempo para a prova cuidada de novos lançamentos de vinhos de Colares. A preferência voltou-se para dois brancos de 2008, o Adega Regional Arenae Malvazia (B) 2008, subtil e elegante, mantendo uma acidez vincada do início ao fim da prova (16-16,5) e o Fundação Oriente (B) 2008, moderno no estilo, com uma curiosa simbiose entre madeira do estágio e acidez pungente (15,5-16). Os tintos? Como comprovaram os velhinhos provados ao almoço, esses precisam de tempo...
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Uma iniciativa que correu muito bem, organizada com profissionalismo, e que merece ser repetida para o ano. Parabéns à organização.

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segunda-feira, abril 19, 2010

Provas


Apegadas:

De volta às provas. De volta aos tintos.
Quem percorre o trajecto entre a Régua e o Pinhão, pela margem direita do rio Douro, conhece bem a adega do projecto Apegadas sita em Canelas, a poucos quilómetros da Quinta do Vallado, na denominada "Quinta Velha", bem defronte da barragem de Bagaúste. Em pouco tempo afirmou-se como um produtor revelação, sempre apresentando tintos modernos, sem sobre-maturacão (a proximidade com o Baixo Corgo favorece), e bem desenhados enologicamente. O ano de 2007 trouxe algumas novidades, um Colheita ligeiramente abaixo do esperado e um Grande Reserva em excelente nível! A saber:


Apegadas Qta Velha (T) 2007
Cor ruby e encarnada, não opaca portanto. Na prova do nariz revela, logo no início, um aroma complicado a madeira queimada e fumados (do estágio parcial em madeira), fósforo, resina. Ainda denota ligeiro café e notas amargas e terrosas. Com arejamento melhora muito (sugere-se, por isso, decantação prévia ao consumo) passando a sobressair fruta encarnada em geleia. A prova de boca é mais linear (e menos complicada, diga-se), fresca mas com pouco corpo, taninos firmes mas que precisam de mais fruta. Final com presença vincada, mas abaixo do esperado, correcto mas ligeiramente "sensaborão"...
15,5

Apegadas Qta Velha Grande Reserva (T) 2007
Praticamente opaco na cor a denotar muita concentração. No nariz, topa-se a Touriga Nacional madura com a componente floral de "braço dado" com a compota de fruta negra. A madeira não se impõe e o registo global é muito cativante, sobretudo pela exuberância aromática (grande primeiro impacto!). Na boca começa sério, ligeiramente áspero, com taninos do carvalho novo, mas sem perder o lado sedutor. Tudo muito bem, exuberante mas não perdendo a elegância do conjunto. Aqui estamos a um nível muito superior do colheita. Para quem gosta destas curiosidades das pontuações, obteve recentemente 90 pontos na conhecida revista americana "Wine Spectator".
17-17,5


Próximas provas: Altas Quintas (B) 2008; Esporão (Esp.) 2007; Viseu de Carvalho Grande Escolha (T) 2006; Bétula (B) 2008; Dom Cosme Reserva (T) 2006; 2 Castas (B) 2009; Alento (T) 2008; Labrador Qta Noval (T) 2007

quinta-feira, abril 15, 2010

Ainda há provas assim:


Quando já começávamos a pensar que as provas e apresentações de vinhos tinham esgotado a criatividade e imaginação dos seus promotores, eis que fomos surpreendidos com uma iniciativa que nos encheu todas as medidas...

Os ingredientes eram, à partida, muito interessantes: (i) um local atractivo – um estúdio de fotografia com uma enorme cozinha no meio (em rigor, já conhecíamos o local de refeições memoráveis preparadas pelo Luís Baena); (ii) três chefes conceituados a cozinhar – Fausto Airoli (Spot São Luiz, ex-Pragma), Marco Gomes (Foz Velha) e Henrique Sá Pessoa (Alma, ex-Panorama); (iii) e uma ideia muito bem burilada – a maridagem de vários vinhos com mini-pratos preparados pelos referidos chefes a partir de um mesmo cesto de ingredientes, sendo que cada vinho teria de acasalar sempre com 3 mini-pratos (um de cada chef).

O resultado, ou melhor o "resultadão", foi um evento divertido, formativo e, para a empresa distribuidora em questão (PrimeDrinks), uma oportunidade de mostrar alguns dos melhores produtos que comercializa. Por isso, presentes estavam também os enólogos de cada produtor, óptima oportunidade para trocar experiências.

Ainda que tal não fosse o objectivo confessado, a refeição acabou por se tornar numa amigável competição entre os três conhecidos chefs, cabendo aos comensais convidados o papel de júri num "concurso" no qual o mais relevante era a busca pela melhor combinação possível entre a comida e os vinhos servidos. As premissas foram iguais para todos: quatro vinhos, dois azeites e um cabaz de ingredientes. O desafio: procurar criar ligações perfeitas.

No primeiro flight (de mini-pratos), para emparelhar com um poderoso (e, por ora, com algum excesso da madeira) Herdade dos Grous Reserva (B) 2008 (16-16,5), soube-nos melhor o excelente "aveludado de batata e ovo escalfado durante 45 minutos a 63º, com misto de cogumelos salteados e cebola desidratada" (criação de Marco Gomes). Com o mesmo vinho branco alentejano, também funcionou muito bem - até porque a preparação estava igualmente soberba - o "robalo assado em cama de amêijoas, com cogumelos e cenoura" (criação de Henrique Sá Pessoa).

Já para o segundo flight, o Ermelinda Freitas Alicante Bouchet (T) 2008, um Alicante moderno, quente e saboroso, com as características do terroir de solo de areia em destaque (15,5-16), bateu-se graciosamente com um fantástico "robalo sobre sarrabulho de arroz, rúcula e espargos" (criação de Fausto Airoli), de todas, para nós, a mais didáctica das maridagens testadas.

Para o terceiro vinho, um bairradio Grande Follies (T) 2003, muito bem (para nós, a surpresa vinícola do evento), complexo e gastronómico (17-17,5), foi vez de brilhar a "feijoada de rabo de boi em cesto crocante de massa brick" (criação de Marco Gomes), numa das mais felizes (mas também menos originais) ligações da prova; a comprovação de que, como sabem os amigos espanhóis, vinho tinto e rabo de boi é uma maridagem perfeita...

Por fim, no derradeiro flight, os "lombinhos de porco em vinha d‘alhos com pêra glaciada e morcela de arroz" (criação de Marco Gomes) revelaram-se como o melhor acompanhamento para um sensualíssimo Esporão Touriga Nacional (T) 2007 (16,5-17), talvez um dos melhores monocastas de sempre lançado pela empresa de José Roquette. Ainda para acompanhar o mesmo tinto, também recordamos com saudade a "espuma de batata com rabo de boi estufado em vinho tinto, nabo e chalota caramelizada em vinagre balsâmico" (criação de Fausto Airoli).

Em suma, uma prova vibrante e didáctica, daquelas que quando acabam já temos pena que tenha terminado (repetição à parte). É caso para dizer, ainda há provas assim, e era bom que fossem mais...


terça-feira, abril 13, 2010

Para beber ou guardar

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Ambos estão em óptimas condições de consumo, apesar de serem dois vinhos que, certamente, irão melhorar com mais uns anitos de cave. São duas sugestões pessoais, pois claro.
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O Graham's vintage é de 1980, está ainda jovem, com fruta abundante e um perfil doce (como é típico da marca). Aguentará com brilho mais duas décadas, sendo que, por ora, exige decante durante, pelo menos, duas horas. É, a nosso ver, um grande vinho de um ano vintage injustamente menosprezado e pouco conhecido. Por isso, é uma pechincha, posto que custa, nas melhores garrafeiras, entre €45 e €65.
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O Passadouro Reserva é de 2004, mantém-se opaco, químico, seco e fresco, apanágios dos melhores vinhos desta quinta no fundão do Vale Mendiz. Cremos que evolua positivamente durante, pelo menos, mais 5 anos. Passou, incompreensivelmente, ao lado da histeria e especulação pelos novos tintos do Douro, pelo que, em boas garrafeiras, custará entre €30 e €35.

segunda-feira, abril 05, 2010

Pesquera Reserva (T) 1990


Outro tinto de 1990 em belo estado de consumo, de uma das principais marcas, na senda das "Bodegas Vega-Sicilia", a contribuir para fama e projecção da sua região (ironicamente, menos creditada na actualidade). Efectivamente, foi com tintos como este (entre outros, claro está) que Pesquera del Duero ("pueblo" da província de Valladolid sem qualquer interesse além-vinho), e a região de Ribera del Duero, ficaram definitivamente no mapa de muitos enófilos.

Apenas a rolha mostrou alguma complicação. De resto, laivos de fruta encarnada embalada em notas de fumo de cachimbo e de madeira (que agora nos parece) usada e avinhada. Ligeiro animal e subtil nota limonada. Uma delícia a beber já, sem necessidade de maior evolução.

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Robustus (T) 1990


Está tão bom quanto (os poucos que já o provaram) dizem dele! Ou seja, faz jus à fama e não é pouco. Um vinho fruto da teimosia de Dirk Niepoort em procurar fazer grandes tintos no Douro (e não apenas Portos).

Tem fruta, complexidade e muita garra, e pode ainda evoluir por mais alguns anos. Foi o primeiro Robustus (nunca lançado no mercado, ao que sabemos). É um grande vinho tinto do Douro com vinte anos.
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