domingo, maio 30, 2010

Provas especiais


"Portfolio" de vinhos únicos

Foi há pouco mais de uma semana que tivemos a oportunidade única de jantar, pela primeira vez, na Feitoria dos Ingleses ("The Factory House"). Localizada na baixa do Porto, num edifício histórico, tem sido, faz séculos, o local de reunião de produtores e enófilos com sotaque "very british" e é, naturalmente, o local de abrigo também de uma garrafeira magnífica de vintages (consta, aliás, que a admissão na Feitoria implica a entrega de algumas caixas de bons vintages).

A ocasião era o jantar patrocinado pela "Portfolio Vinhos" (empresa que associa a família Symington a Joaquim Augusto Cândido da Silva), mas a cerimónia só ocorreria verdadeiramente com a degustação de vinhos que, por motivos diversos, eram quase únicos ou, pelo menos, de muito difícil acesso.
Foi, assim, com muito deleite que começámos por provar um ensaio de Anselmo Mendes, um vinho branco chamado Perdido (B) 2001, um vinho fantástico onde complexidade e elegância andam de braços dados (17-17,5). Segundo o próprio Anselmo existiam antes da prova apenas 6 garrafas... agora talvez nem uma. Provámos também (e já com saudade) as últimas garrafas de um dos primeiros vinhos de José Mota Capitão, denominado pelo produtor por Brisa da Herdade do Portocarro (T) 2003, um vinho feito de vinhas Sangiovese muito jovens, imberbes mesmo, que desafiou a clássica concepção de que só as vinhas velhas podem produzir grandes vinhos (17).

Mantendo-nos no plano doméstico, da Bairrada, veio um interessante Kompassus Reserva Particular (T) 1991, em plena forma e com altiva complexidade faltando apenas, a nosso ver, alguma sedução ao conjunto (16,5-17); como veio também, mas agora das terras do Dão, um enorme Quinta da Falorca (T) 1963, um tinto eternamente na "meia-idade", um tinto que parou no tempo, ainda pujante e com laivos de fruta encarnada (17-17,5). Do Alentejo um imponente Terrenus Reserva (T) 2004, que deu, uma vez mais, uma prova inesquecível com aromas trufados e a frutos encarnados inebriantes (17,5++).

Pelo meio, prova de dois estrangeiros: um Château de Beaucastel (T) 1989 e um Don Melchor (T) 2001, nenhum desapontou (bem pelo contrário) e cada um mostrou-se fiel ao seu estilo: fantástica a prova do francês, revelando uma boca com fruta, terra e ligeiro toque animal (17-17,5); quanto ao tinto chileno, irresistível na sua compota frutada e na textura aveludada que mantém (17).

Tempo também houve para vinhos de perfil mais doce que brilharam muito alto: Hugel Gewurztraminer Sélection de Grains Nobles (B) 1985, da família Hugel & Fils servido em magnum, em perfeito momento de prova já com as notas de evolução típicas da casta, delicioso! (18+); Dow's Vintage (P) 1963, servido também em magnum, sempre um dos nossos favoritos, infelizmente, desta feita, ligeiramente abaixo de provas anteriores (17,5-18); e, o Graham's Malvedos Vintage (P) 1965 um belíssimo vintage que provámos pela primeira vez, mas que gostámos tanto, pois esteve saborosíssimo na prova de boca (17,5-18+), que quase suplantou o Dow's servido anteriormente, tendo ainda com muitas "pernas para andar" em cave.

Para o fim, e após uma tímida flute de Pol Roger Sir Winston Churchill (Esp.) 1996, dois magníficos fortificados lusos: o Warre's A. J. Symington Colheita (P) 1882, um super colheita, de cor castanha e acobreada, intenso e harmonioso, com vinagrinho delicioso, nada pesado e nada extra-doce, boa acidez e um final interminável (19); e, o Blandy's Terrantez (M) 1899, um Terrantez de outro mundo, sufocado com notas de caril e vinagrinho, ligeiramente seco na boca, acidez alta como quase sempre acontece com os vinhos da Pérola do Atlântico, e um final de boca de "largar família", como dizem os brasileiros (19). Foi a melhor maneira de terminar a noite, e foi a prova - como se (ainda) fosse preciso prova... - que os Portos e os Madeiras, quando bons e velhos, estão entre os melhores vinhos do Mundo!
***

segunda-feira, maio 24, 2010

Provas

Dom Cosme Reserva (T) 2006

Dos vários vinhos da meritória "Fundação Abreu Callado" (v. foto para os três de categoria superior), produtor com vinhas plantadas no Alto Alentejo, mais propriamente em Benavila (Avis), foi o tinto topo de gama "Dom Cosme Reserva", da colheita de 2006, que mais nos impressionou.

De cor escura, revela de imediato uma prova de nariz profunda, com fruta negra, porém latente e algo contida. Pouca madeira, apenas ligeiro alcatrão e fumados, tudo desenhado numa perspectiva essencialmente gastronómica e nada exuberante, decisão que merece o nosso aplauso.

Boca com fruta mais viva do que o nariz faz prever, fruta ora negra ora encarnada. A tendência do conjunto é para alguma rusticidade mas isso, a nosso ver, não tem mal algum desde que não haja lugar a excessos - e neste caso não há! Falta apenas alguma complexidade e um corpo mais envolvente para vermos neste tinto uma verdadeira e indiscutível referência alentejana. Destaque positivo também para o final de boca saboroso.

Está ainda um pouco bruto e fechado mas, até pela acidez que demonstra, vai certamente melhorar em garrafa pelo menos nos próximos 5 anos. Sem dúvida, o melhor vinho da "Fundação Abreu Callado" que provámos.

16,5+

Próximas provas: 2 Castas (B) 2009; Alento (T) 2008; Labrador Qta Noval (T) 2007; Altas Quintas Mensagem de Trincadeira (T) 2007; Cistus Reserva (B) 2009

terça-feira, maio 18, 2010

Provas


Bétula (B) 2008

Temos aqui um branco duriense que, tudo ponderado, vive de uma "tensão dialéctica" entre duas castas francesas de grande personalidade, sem que, contudo, o resultado dessa dialéctica seja, a nosso ver, uma grande mais-valia para o nosso país vinícola. Referimo-nos à tensão que se verifica entre o fruto maduro e de caroço típico do Viognier (sobretudo na prova de boca) e a maior exuberância tropical do Sauvignon Blanc (na prova de nariz).

Inevitavelmente, quanto mais fresco for servido e provado, melhor sai o conjunto devido à (alguma) secura e fruta viva proporcionada pela casta de Bordéus e de Loire. Pelo contrário, quando a temperatura aquece no copo, logo vem a untuosidade, tantas vezes excessiva, da casta branca de Côtes du Rhône, e o vinho ressente-se.

Um branco que precisa, a nosso ver, de uma maior acidez que permitisse um equilibro mais certeiro entre frescura e doçura da barrica. Uma vez que se apresenta com algum peso, essencialmente na prova de boca, recomendamos para dias invernosos. Em todo o caso, não deixa de ser um vinho branco enologicamente bem feito e cujo principal atributo talvez seja o seu carácter pedagógico de permitir explorar sensorialmente, de uma só assentada, duas castas muito em voga no plano internacional.

Não sendo o melhor branco no mercado, muito menos um branco apto para acompanhar peixes e mariscos grelhados (longe disso...), será certamente amigo de uma salada de carnes brancas podendo revelar aptidão gastronómica nessa combinação.

15,5


Próximas provas: Dom Cosme Reserva (T) 2006; 2 Castas (B) 2009; Alento (T) 2008; Labrador Qta Noval (T) 2007; Altas Quintas Mensagem de Trincadeira (T) 2007; Cistus Reserva (B) 2009

quarta-feira, maio 12, 2010

Provas especiais


E o vencedor é...

Três grandes vinhos tintos nacionais. Os três da óptima colheita de 2001 e provenientes de duas regiões - um do Douro e dois da Estremadura (actual Região de Lisboa). Directamente de Alenquer vieram dois "pesos pesados" da região: de um lado, um produtor clássico - Quinta de Pancas - e do outro, um recém chegado ao mais elevado patamar dos vinhos nacionais - Quinta do Monte d'Oiro. Do Douro, uma das nossas marcas predilectas, um terroir de excepção - Brunheda - na expressão das suas vinhas mais velhas. Os três vinhos foram provados primeiramente a solo, e depois a acompanhar cabrito assado no forno.

Quinta de Pancas TN Special Selection (T) 2001: Nariz exuberante a indicar tudo menos que se tratava de um monocasta de Touriga Nacional. Chocolate preto, fumo de cachimbo, anis, fruta madura carnuda (ameixa) e ligeiros aromas terciários. Boca potente, larga, muito expressivo e saboroso, e acidez elevada. Um grande vinho num momento fantástico para ser provado! O claro vencedor da prova - o melhor e o mais equilibrado. Beber até 2015.
17,5

Brunheda Vinhas Velhas (T) 2001: Já faz algum tempo que é dos nossos durienses favoritos. Nariz com muita madeira de início, depois vira para especiaria vária e fruta muito madura, quase quase em sobrematuração. Amora e chocolate. Boca em perfeita forma, começa por surpreender pela frescura (pois o nariz é muito mais maduro), e termina redonda e láctea - é uma tentação! Uma bomba de fruta no melhor dos sentidos possíveis e que irá ainda evoluir. Beber até 2015.
17

Quinta do Monte d'Oiro Reserva (T) 2001: O menos concentrado na cor, e também o mais evoluído. Nariz com referências terciárias já evidentes, couro, cogumelos, e fundo de armário. Depois, fruta encarnada fresca como a framboesa e a groselha. Na boca, foi o menos potente e encorpado dos três, mas manteve-se elegante e brioso e foi o mais gastronómico quando obrigado a emparelhar com um prato de carne. Na boca ainda revelou ainda fruta encarnada, ligeira nota apimentada muito agradável, e só o final pecou por não ser mais longo. Beber até 2012.
16,5
***

segunda-feira, maio 10, 2010

Novidade

Fiuza (R) 2009

Chega-nos este rosé da ribatejana casa Fiuza (região Tejo), chega-nos da colheita de 2009, e chega-nos em boa altura com o calor a surgir. Produzido a partir de Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, mantém um nariz fresco, muito seguro de si, com nuances mais ou menos directas a morango e frambuesa. Boca saborosa, ligeira e leve como se pretende num rosé que se quer descomprometido. Apenas um ligeiro ardor no fim de boca que não chega a desagradar, antes pelo contrário - lembra-nos que é vinho, que tem álcool e que, por isso, não convém abusar...
Tem tudo para ser uma boa companhia de Verão, um rosé que não vira a cara a uma fatia de pizza ou a uma salada de carnes brancas. Em suma, mais uma boa edição deste rosé de sucesso. Certinho!

15

sexta-feira, maio 07, 2010

Provas

Viseu de Carvalho Grande Escolha (T) 2006

Topo de gama da Casa de Santa Eufémia e, é caso para dizer, topo de gama num ano difícil como o de 2006 para a região do Douro. Uvas de vinhas com mais de 25 anos, das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Tinta Carvalha, entram neste lote que viu 12 meses de barrica francesa (500l). No copo revela cor muito concentrada, vinioso, quase opaco.

Nariz clássico duriense, feliz combinação entre componente floral, muito fruto negro maduro e doce (como seja o mirtilho) e ligeiro vegetal. De resto, limpo, sem nenhum toque de rusticidade agressiva que caracteriza alguns dos melhores tintos do Douro na colheita de 2006.

Prova de boca muito fresca, aliás surpreendentemente fresca para um ano tão quente e difícil, mas explicável, em parte, pela localização das vinhas, próximas da Régua quase na fronteira com o Baixo Corgo, e pela exposição maioritariamente a noroeste. Acresce fruta negra saborosa, um conjunto elegante e muito afinado (sem os excessos da anterior edição), e longo no prazer. Acreditamos que irá evoluir favoravelmente nos próximos 5 anos.

Em suma, um grande salto qualitativo em relação à edição anterior (de 2003). Por pouco mais de €15, temos aqui um primus inter pares no que respeita à colheita de 2006 no Douro e, ainda por cima, a um óptimo preço.

17+

Próximas provas: Bétula (B) 2008; Dom Cosme Reserva (T) 2006; 2 Castas (B) 2009; Alento (T) 2008; Labrador Qta Noval (T) 2007; Altas Quintas Mensagem de Trincadeira (T) 2007; Cistus Reserva (B) 2009

quarta-feira, maio 05, 2010

Provas

Esporão Bruto (Esp.) 2007

Ainda não foi desta que nos surpreendemos com um espumante alentejano. De resto, este Esporão tem até um carácter seco, bem ao estilo que gostamos. Sucede que, no nariz falta-lhe graciosidade – é um espumante bruto e não apenas no que tal designação se refere à proporção de açúcar –, sendo muito pouco diplomático e mesmo algo agreste. Na boca, apesar de fresco e agradável, é a complexidade a principal lacuna, apresentando-se algo linear e com uma vontade própria de querer desaparecer do palato.
Sem defeitos, simples e linear, é capaz de agradar e é, sem dúvida, mais um meritório esforço de um produtor (com muito melhores vinhos, brancos e tintos, no seu portefólio) na busca de dispor de uma completa uma gama de vinhos.

14,5

Próximas provas: Viseu de Carvalho Grande Escolha (T) 2006; Bétula (B) 2008; Dom Cosme Reserva (T) 2006; 2 Castas (B) 2009; Alento (T) 2008; Labrador Qta Noval (T) 2007; Altas Quintas Mensagem de Trincadeira (T) 2007; Cistus Reserva (B) 2009

segunda-feira, maio 03, 2010

Provas


Altas Quintas (B) 2008

Para completar uma gama já de si extensa, surgiu, faz poucos meses, um branco da marca Altas Quintas, projecto com vinhas localizadas na Serra de São Mamede (Alto Alentejo, distrito de Portalegre) e enologia de Paulo Loureano.

No copo, surge-nos com uma cor amarela ligeiramente carregada. No nariz, sente-se a barrica do estágio muito presente, com notas de fumo e de tosta a taparem em demasia os subtis contributos aromáticos da casta Verdelho e os aromas mais exuberantes da casta Arinto. Em todo o caso, o vinho transpira acidez e frescura "por todos os poros" e, nesse aspecto, está muito bem desenhado, quase sem peso e sem excesso de fruta ou de doçura.

À semelhança do nariz, também a prova de boca é, sobretudo no início, dominada pelas impressões da madeira por onde o vinho estagiou. É curiosa a sensação que nos ocorre de que enquanto as notas a frutos secos do Verdelho batalham para se imporem, o Arinto, ao invés, parece ter conseguido conviver melhor com a "prisão de carvalho" e surge a caminho da integração com a fruta. Óptima acidez (neste campo a madeira não estorvou em nada), quase quase crocante, juntando-se um final persistente e novamente com acidez refrescante.

Em suma, é pena a presença impositiva da madeira. Para já, o melhor parece mesmo ser esperar que o estágio em garrafa retire o excesso de notas tostadas. Se tal suceder, e se a acidez se mantiver, poderemos ter aqui um branco bastante interessante.

15,5+

Próximas provas: Esporão (Esp.) 2007; Viseu de Carvalho Grande Escolha (T) 2006; Bétula (B) 2008; Dom Cosme Reserva (T) 2006; 2 Castas (B) 2009; Alento (T) 2008; Labrador Qta Noval (T) 2007; Altas Quintas Mensagem de Trincadeira (T) 2007; Cistus Reserva (B) 2009