sexta-feira, outubro 29, 2010

Prova especial

Scion very old Port

Foi ontem, e literalmente a conta-gotas... David Guimarães abanou um pequeno frasco, talvez com 500ml, contendo um líquido pré-filoxérico. De pipeta em mão, proporcionou alguns momentos mágicos a quem provou este "very old Port". David Guimarães acredita tratar-se de um vinho com cerca de 155 anos e, muito provavelmente, tem origem num único ano.  Das três pipas que originalmente continham esta vinho precioso, uma terá sido comprada comprada nem mais nem menos do que por Winston Churchill. As outras duas, agora, pela Taylor's.

De resto tudo o que espera de um dos melhores vinhos que se pode provar em vida. Muita complexidade num nariz com notas frescas mas rançosas, e um vinagrinho em proporção adequada. Boca esmagadora, doce mas com acidez altiva, infindável e indecifrável. A concentração é tal que cada gota - cada gota rigorosamente - tem um sabor dos diabos! Ou melhor, dos deuses! O preço, esse sim, é mesmo dos diabos, pois cifra-se pelos €2.500.

19,5

quinta-feira, outubro 28, 2010

Provas

Valle Pradinhos (R) 2009

Não podemos esconder a atracção que sentimos por este rosé. Sempre apreciámos o seu estilo generoso mas não guloso; o diálogo que perpetua entre fruta e garra. Cor carregada no copo (rosa muito escuro), nariz vinioso, álcool em alta mas sem distrair.

Com comida tem uma aptidão gastronómica próxima de um vinho tinto; se bebido a solo aproxima-se de um vinho branco pela elegância. Ponderados ambos os atributos, optamos por não o beber como aperitivo; servirá antes para acompanhar um bom prato, mesmo que seja daqueles que pode dispensar vinho, como foi o caso da tortilha que se vê na foto em plena fritura. É, para nós, um dos melhores rosés nacionais!

16

Próximas provas: Alento (B) 2009; 4 Castas (T) 2008, Quinta dos Poços Reserva (T) 2005; Bétula (B) 2009


terça-feira, outubro 26, 2010

Provas

Guarda Rios (R) 2009

Os rosés nacionais estão em alta! Já começa a ser difícil encontrar um exemplar que nos estrague o palato. Este Guarda-Rios já teve versões mais doces (e, por isso, menos atraentes). Agora, ainda mantendo um registo guloso, está todavia mais sério e interessante. Nesta colheita de 2009, a fruta continua a comandar a prova sensorial (e é isso que se espera de um rosé), mas a boca é mais complexa e o final mais acentuado que em edições anteriores. E tem bom preço, o que é simpático para enfrentar a crise em que vivemos com o copo cheio.

No nosso caso, acompanhou umas fajitas de frango e pimentos bem picantes e a ligação, apesar de simples e costumeira, revelou-se perfeita.

15,5

Próximas provas: Vale Pradinhos (R) 2009; Alento (B) 2009; 4 Castas (T) 2008, Quinta dos Poços Reserva (T) 2005


domingo, outubro 24, 2010

Provas

Conventual Reserva (B) 2008

Talvez menos conseguido que na colheita de 2007 (ver prova aqui), mantém todavia um bom nível e um preço muito interessante. É um branco que nasce nas terras altas de Portalegre, pelo que não espanta que revele frescura, fruta citrina, e uma complexidade acima da média.

A menos de €4 continua a ser uma aposta segura. Quem disse que não existem bons brancos baratos?

15,5-16

Próximas provas: Guarda Rios (R) 2009; Vale Pradinhos (R) 2009; Alento (B) 2009; 4 Castas (T) 2008, Quinta dos Poços Reserva (T) 2005

quinta-feira, outubro 21, 2010

Prova especial

Escultor (T) 2006

Grande vinho este alentejano! Prova que a casta Trincadeira, com Alicante à mistura, pode proporcionar vinhos fantásticos em climas quentes e noites frescas. Grande concentração, mas não esmagador, revela taninos secos, e muita fruta preta mas não enjoativa nem mastigável. Madeira de primeira qualidade, em perfeita conjugação com as notas de pimenta e as referências menos maduras da Trincadeira. Óptima frescura com boa acidez, e um eterno perfil gastronómico, final de boca em construção. Faz parte da nova – e feliz! – tendência para produzir vinhos cheios, encorpados e poderosos, sem serem chatos ou devastadores. Assim, sim.

É o topo de gama do Monte do Pintor, sito em Igrejinha a 15 km de Évora (bem defronte da famosa Herdade dos Coelheiros) e é propriedade do produtor que também detém a Herdade do Perdigão mais a norte na direcção de Portalegre. Temos aqui um vinho valioso e com preço elevado, entre os €45 e os €55. Garrafa (excessivamente) pesada, mas com rótulo belíssimo da autoria do escultor João Cutileiro.

A não perder!

17,5-18++

sexta-feira, outubro 15, 2010

Pechincha

Uma proposta bag-in-box de colheita seleccionada. Verdadeiramente seleccionada, vinho de qualidade elevada, com passagem por madeira, competente e muito saboroso. Uma proposta que pode revolucionar o vinho a copo na restauração.

É o novo vinho do produtor alentejano Solar dos Lobos e chama-se "Le Loup Noir". Estagia oito meses em barrica e é da colheita de 2008. O melhor elogio que poderemos dar-lhe é relatar que quando o provámos pensámos de imediato que se tratava de um tinto de gama alta (um vinho com cerca de 16 valores ou mais) engarrafado! Ou seja, nunca pensámos que estivesse num formato bag-in-box. Nem imaginamos o sucesso nas festas lá em casa – é colocá-lo em vários decanters e servi-lo com o gabarito que merece.

Por 9,90€ temos dois litros de vinho tinto de qualidade, o que é uma verdadeira pechincha, sobretudo se pensarmos que o vinho não evoluirá de forma acelerada pois está sempre sob vácuo, podendo permanecer aberto durante algumas semanas.


Pechincha pois!

quarta-feira, outubro 13, 2010

Novidade

Primeira Paixão (B) 2009

Nesta segunda edição, parece estar ainda melhor que a anterior, com uma prova de boca mais intensa e penetrante. Notas exóticas muito subtis (ligeiro maracujá), outras citrinas mais vincadas mas mantendo-se sóbrio, elegante, ligeiramente distante e circunspecto, próximo da mineralidade.

Seco, muito seco, crocante. E gastronómico, pois deixa sede na boca com notas a sal e iodo apressado. Só o fim de boca o compromete - por ser tão seco é algo fugaz - não o deixando "voar mais alto".

É, de qualquer forma, um vinho quase perfeito à mesa, que pode tanto acompanhar peixe e marisco (prove-o com lapas grelhadas como sugerimos aqui) como pratos com influências orientais. Essa versatilidade - é um vinho que não chateia e isso é sempre uma qualidade - é uma vantagem pouco comum nos brancos nacionais. O facto de ser um Verdelho da Madeira pode atrair os mais curiosos e esses não vão ao engano.

Em suma, é um vinho que tem tudo para ser um sucesso. E merece-o!

16,5-17

segunda-feira, outubro 04, 2010

Surpresa

Senhor d' Adraga (B) 2009

Quem diria que lado a lado a uma das mais ventosas e frias praias do concelho de Sintra fosse possível produzir vinho? Quem diria que esses dois vinhos - pois que os há um branco e um tinto - não resultariam das vinhas tradicionalmente plantadas em Colares ou nas Azenhas do Mar, mas antes em Almoçageme, território perigosamente próximo do Cabo da Roca, em plena falda noroeste da Serra de Sintra? E quem diria que esses mesmos vinhos seriam vinhos de lote com castas tão diferentes e pouco usuais na região como o Alvarinho, o Chardonnay, ou mesmo Riesling e Semillon e que, ademais, proporcionariam uma prova muito, mas mesmo muito, positiva?  Muito poucos, certamente.

Do projecto Senhor d' Adraga, hoje falamos do branco. Um branco interessantíssimo dada a sua vertente original, pouco frutada (apenas caroço), ligeiramente oxidada até, muito gastronómico e complexo. Não é vinho para enófilos menos experientes ou consumidores mais vocacionados para brancos untuosos; não, neste branco Regional de Lisboa não existem vaidades exacerbadas nem "saladas de frutas". Ao invés, mostra-se fresco, austero apesar de ser ligeiramente cremoso ao entrar na boca, com enorme acidez e final refrescante. Com 12% vol., de inesgotável limpidez, é um vinho que pede comida, peixe de preferência (por exemplo, num dos muitos restaurantes e marisqueiras na costa entre Cascais e Ericeira).

Uma surpresa, realmente! Uma óptima surpresa, a menos de €10. Faz justiça ao nome que emprega, pois está mesmo um Senhor, e é da Praia da Adraga.

16,5

sexta-feira, outubro 01, 2010

Novidade

Vale d' Algares Selection (T) 2007

Projecto jovem mas já consolidado na recém criada região do Tejo, Vale D' Algares produz vinhos modernos, de carácter frutado e guloso. Este Selection de 2007 está, contudo, ligeiramente mais sério e bastante mais interessante que o tinto entrada de gama "Guarda Rios". Mantém-se frutado, é certo, mas apresenta-se com alguma profundidade e a madeira dá-lhe alguma expressão mais complexa.

Bem executado e de perfil internacional, é um tinto que agradará um público generalizado, mas é também, dado o seu preço não exagerado, uma escolha segura (sobretudo a acompanhar carne bovina) na sempre especulativa restauração nacional. Não é o melhor tinto da região, mas não conhecemos razões para não o ter como companheiro de mesa.

16